Não é tão ruim assim
Parece haver um paradoxo envolvendo uma das questões mais prementes na vida moderna: A maneira bem-intencionada como a mídia retrata a solidão está acabando por exacerbar a solidão ao influenciar negativamente as crenças das pessoas sobre estarem sozinhas.
A solidão foi declarada uma "epidemia" global, com consequências significativas para a saúde mental e física, em um aparente paradoxo com a atual era de hiperconectividade. Isto levou a campanhas de saúde pública e discussões na mídia com o objetivo de combater essa crise.
Mas parece que essas campanhas e discussões estão piorando a situação. Uma análise profunda em 144 artigos de notícias de jornais de grande circulação em vários países, publicados entre 2020 e 2022, revelou uma tendência clara: Não estar continuamente cercado por outras pessoas é amplamente retratado como um estado negativo, até mesmo perigoso. Essas histórias têm 10 vezes mais probabilidade de descrever estar sozinho como mais prejudicial do que como benéfico.
Bom, mas não deveria ser assim mesmo? Parece que não.
"O amplo discurso público sobre os perigos de estar sozinho pode estar fazendo mais mal do que bem," destaca Micaela Rodriguez, da Universidade de Michigan (EUA). "Este trabalho destaca a necessidade de veículos de os comunicação e as campanhas de saúde pública distinguirem claramente entre estar sozinho e se sentir solitário - e reconhecer que passar tempo sozinho, que é uma parte inevitável da vida diária, às vezes pode ser benéfico."
Diferença entre solidão e estar sozinho
Os resultados contestam a ideia de que a solidão é inerentemente negativa e sugerem que mensagens sociais alertando sobre os perigos de estar sozinho podem, na verdade, ser contraproducentes, fazendo com que os indivíduos se sintam ainda pior porque seus momentos a sós passsam a ser descritos como negativos, quando não necessariamente o são.
E esse efeito não se limita a uma cultura. A equipe coletou dados de nove países em seis continentes, incluindo Brasil, África do Sul, Reino Unido, Japão, México, Espanha, Austrália e Polônia, e o efeito ocorreu em todos eles.
As descobertas sugerem que as crenças sobre a solidão moldam consistentemente como as pessoas vivenciam a solidão em todo o mundo, demonstrando que nossa mentalidade sobre a solidão influencia se ela parece isolante ou restauradora.
Usando métodos rigorosos de pesquisa longitudinal, a análise destrinchou como a mídia retrata estar sozinho, revelando que pessoas que acreditam que estar sozinho é prejudicial tendem a se sentir mais solitárias depois de passar um tempo sozinhas na vida diária. No entanto, aqueles com uma visão mais positiva da solidão não se sentem apenas menos solitários nas mesmas situações, eles realmente se sentem mais positivos pelo tempo passado consigo mesmos.
"A solidão não diz respeito apenas aos nossos relacionamentos com outras pessoas, mas também à nossa relação com o tempo que passamos sozinhos," destaca o professor Ethan Kross. "Nossa pesquisa sugere que aprender a ver o tempo sozinho como uma experiência positiva não apenas protege as pessoas contra o sentimento de solidão, mas também promove experiências saudáveis de solidão que promovem o bem-estar."
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