15/06/2023

Eu posso estar com câncer ou eu tenho câncer, Doutor?

Redação do Diário da Saúde
Eu posso ter câncer? Como assim, Doutor?
Felizmente existe um jeito mais simples de comunicar o risco para os pacientes: Basta que os médicos o utilizem.
[Imagem: Mohamed Hassan/Pixabay]

Como assim, Doutor?

As conclusões médicas e científicas - sejam conclusões de estudos ou resultados de exames - nem sempre são fáceis de entender.

E as declarações de risco envolvidas são ainda mais complicadas, envolvendo um debate infindável entre os próprios cientistas, que não chegam a um consenso sobre métricas largamente usadas, por exemplo, nos ensaios clínicos feitos para a aprovação de medicamentos e tratamentos.

Não por acaso, quando chegamos à interação médico-paciente durante uma consulta, transmitir as informações estatísticas não é tarefa fácil e nem sempre elucidativa para o paciente.

Ante essas dificuldades, pesquisadores de vários domínios da medicina, da educação médica e da educação matemática, se juntaram para propor medidas para tornar mais eficaz a comunicação entre médicos e pacientes sobre riscos reais à saúde - o quanto esse exame diz se você está realmente doente ou não está doente, por exemplo.

"Até os médicos às vezes têm dificuldades em determinar o valor preditivo correto. E, se os dados são difíceis para o médico interpretar, é ainda mais difícil comunicar as informações com precisão aos pacientes de uma maneira que eles possam entender," disse a Dra Karin Binder, da Universidade Ludwig-Maximilians de Munique (Alemanha).

O jeito complicado

Para ilustrar as dificuldades sobre a comunicação de risco, a equipe cita o exemplo de um paciente cujo exame ultrassonográfico da tireoide mostra um nódulo. Isso significa que o paciente tem câncer de tireoide? Não necessariamente, pois existe uma probabilidade conhecida de um falso positivo, ou seja, o resultado do exame ser positivo mesmo que o paciente não tenha câncer de tireoide.

Para explicar aos pacientes o quadro estatístico lido no resultado do teste, existem duas abordagens, e a equipe concluiu que uma delas é muito mais fácil de interpretar do ponto de vista do paciente, enquanto a outra, também comumente usada pelos médicos, exige algum raciocínio que pode dificultar o entendimento.

A abordagem comumente usada, conhecida como bayesiana, baseia-se no número de pacientes que realmente têm a doença. Em primeiro lugar, o médico explica com que frequência a doença ocorre no geral - por exemplo: "Em 1.000 pacientes, 50 têm câncer de tireoide". Em seguida, o médico estabelece: a) Para quantos desses pacientes com câncer de tireoide o resultado do teste é positivo (20 em 50) e b) Quantas pessoas não têm câncer de tireoide mesmo tendo um resultado positivo no exame (110 dos restantes 950).

Infelizmente, no entanto, testes positivos como proporção de pessoas com a doença são frequentemente confundidos com pessoas com a doença como proporção de testes positivos! E essas duas porcentagens podem diferir muito dependendo da situação.

Então, o que significam os números citados acima em relação ao paciente do exemplo, com seu teste positivo? Quantas pessoas que testam positivo realmente têm a doença? Se para você a resposta não é imediatamente aparente, você não está sozinho: Sem mais informações, apenas 10% dos participantes dos experimentos feitos pela equipe de cientistas conseguiram calcular quantas pessoas com resultados positivos realmente tinham a doença.

O jeito simples

A boa notícia é que, além dessa comunicação bayesiana, existe também uma comunicação "diagnóstica", pela qual as informações são postas de maneira muito diferente.

Em primeiro lugar, o médico explica quantos pacientes têm resultados positivos nos testes, independentemente de terem ou não a doença. Em nosso exemplo, seriam 130 pessoas com um detalhe digno de nota no ultrassom da tireoide (em 1.000 pessoas examinadas). Em seguida, o médico explica quantas dessas pessoas com testes positivos realmente têm a doença (20 em 130) e quantas pessoas com resultados negativos têm a doença (30 em 870).

A informação relevante é assim posta diretamente, sem a necessidade de aritmética mental: Se meu resultado for positivo, então a probabilidade é de 20 em 130 de que eu realmente tenha câncer de tireoide. Quando comunicados desta forma, 72% dos participantes do estudo foram capazes de chegar a esta conclusão, em comparação com 10% com a abordagem bayesiana.

"Além disso, com a comunicação bayesiana os participantes foram consideravelmente mais lentos em alcançar o resultado correto, se é que chegaram lá," disse Karin Binder. "E, em consultórios médicos e hospitais movimentados, esse tempo geralmente não está disponível."

A equipe pede então aos médicos que usem a comunicação de informações diagnósticas mais prontamente no futuro. Isso ajudará a evitar confusão, má interpretação, decisões erradas e todo o estresse de pacientes que precisam lidar com um diagnóstico falso-positivo ou ter preocupações com resultados falso-negativos.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Bayesian versus diagnostic information in physician-patient communication: Effects of direction of statistical information and presentation of visualization
Autores: Sarah Frederike Brose, Karin Binder, Martin R. Fischer, Martin Reincke, Leah T. Braun, Ralf Schmidmaier
Publicação: PLoS ONE
DOI: 10.1371/journal.pone.0283947
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