O Papa Bento XVI anunciou a sua decisão histórica de renunciar.
Esta é a primeira vez em 600 anos que um Papa renunciou.
E, em 1415, quando Gregório XII renunciou, ele o fez não para se aposentar, mas para que, depois de décadas de cisma, a igreja pudesse voltar a ter um único Papa.
Esta é sem dúvida a primeira vez que um Papa pede demissão por conta da enfermidade que acompanha a velhice.
O anúncio da renúncia papal afirma:
"Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, eu cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são adequadas para exercer adequadamente o ministério Petrino."
Esta declaração traz à atenção do público a mortalidade e a fragilidade da pessoa humana que ocupa o cargo de Papa, que é encarregada pela igreja do exercício do "ministério Petrino" - em alusão a São Pedro.
O ministério é exigente, porque o Papa exerce um grau de autoridade e responsabilidade extraordinário, em grande parte desconhecido nas sociedades modernas - ao contrário da crença popular, o Papa não é realmente infalível, embora ele tenha o poder de fazer declarações infalíveis.
Mas há uma dimensão adicional, uma dimensão teológica, para esta inesperada renúncia.
A doutrina católica tem sido muitas vezes vista como estando em desacordo com a moral contemporânea, especialmente em áreas como a contracepção, reprodução assistida ou aborto, práticas que chamam a atenção para a questão de quando começa a vida.
A teologia católica sempre se orgulhou, no entanto, de juntar a compreensão da natureza da vida - seu início e seu fim - com o conceito de dignidade humana.
É esta preocupação que levou ao envolvimento católico na saúde, no bem-estar, na educação e na justiça social e, não menos importante, nos cuidados com os idosos.
No século 21, quando as ciências da saúde evoluíram a um ponto onde os seres humanos com acesso a alimentos, água e abrigo podem viver mais do que em qualquer século anterior, uma teologia do envelhecimento tornou-se mais importante do que nunca.
A renúncia de Bento XVI vai chamar a atenção para esse desenvolvimento como nenhum outro evento poderia fazer.
O que acontece quando os humanos vivem até idades muito avançadas, mas continuam enfrentando a deterioração nas "forças tanto da mente quanto do corpo"?
Esta é uma questão que preocupa as pessoas na terceira idade e seus cuidadores, onde quer que a saúde frágil, a demência ou outras condições prejudiquem as capacidades físicas e mentais de familiares.
Há espaço na igreja e na sociedade para uma teologia do envelhecimento que apoie e sustente a dignidade humana para os idosos, especialmente quando a saúde da mente e do corpo se esvaem?
Uma pesquisa recente, feita pelo Dr. Stephen Ames para a Agência Anglicana Benetas, na Austrália, destacou a percepção de que, com o envelhecimento "o self da pessoa se dissolve".
O pesquisador escreveu:
Se se presume que a dignidade e o ser humano são definidos em termos funcionais, então, conforme a funcionalidade se vai, também se esvai o sentido de pessoa e de dignidade... [mas] a teologia nos diz que a personalidade não se perde com a idade.
A renúncia de Bento XVI é um poderoso lembrete de que mesmo o Papa é falível, frágil e mortal.
Conforme seu legado é revisto, e conforme crescem as especulações sobre seu sucessor, vale a pena contemplar o que sua renúncia poderia revelar sobre a vida humana em um mundo em envelhecimento.
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