Gosto de você, logo aprendo
Nossos cérebros parecem ter sua própria "fiação" - na forma de circuitos neurais dedicados - para aprender mais com as pessoas de quem gostamos e menos com aquelas de quem não gostamos.
É o que demonstra uma série de experimentos em neurociência cognitiva feita por Marius Boeltzig e colegas da Universidade de Lund (Suécia).
Nesses experimentos, os participantes precisavam lembrar e conectar diferentes objetos - como uma tigela, uma bola, uma colher, uma tesoura ou outros objetos do cotidiano - que eram apresentados por diferentes pessoas, algumas descritas meramente como participantes de um grupo com o qual os voluntários se identificavam.
Os participantes forneceram definições individuais de "gosto" e "não gosto" com base em aspectos como opiniões políticas, formação, hábitos alimentares, esportes favoritos, hobbies e música.
Os resultados mostraram que a integração da memória, ou seja, a capacidade de lembrar e conectar informações através de eventos de aprendizagem, foi influenciada por quem as apresentou. Se fosse uma pessoa de quem o participante gostava, conectar as informações era mais fácil do que quando as informações vinham de alguém de quem o participante não gostava.
Já existem vastas pesquisas que descrevem que as pessoas aprendem a informação de forma diferente dependendo da fonte, e como isso caracteriza a polarização e a resistência ao conhecimento. "O que a nossa investigação mostra é como estes fenômenos significativos podem ser parcialmente atribuídos aos princípios fundamentais que regem o funcionamento da nossa memória," disse o professor Mikael Johansson.
As informações que preferimos
Os resultados dos experimentos indicam que estamos mais inclinados a formar novas conexões e atualizar conhecimentos a partir de informações apresentadas por pessoas ou grupos que favorecemos. Esses grupos preferidos normalmente fornecem informações que se alinham com as nossas crenças e ideias pré-existentes, potencialmente reforçando pontos de vista polarizados.
Segundo os pesquisadores, isto tem grande impacto na vida real, incluindo a polarização que tem-se manifestado em todo o mundo em assuntos que vão da política e das questões ambientais à religião.
Inês Bramão, membro da equipe, cita um exemplo: "Um partido político defende o aumento de impostos para beneficiar os cuidados com a saúde. Mais tarde, você visita um centro de saúde e percebe que foram feitas melhorias. Se você simpatiza com o partido que queria melhorar os cuidados de saúde através de impostos mais elevados, é provável que atribua as melhorias ao aumento dos impostos, embora as melhorias possam ter tido uma causa completamente diferente".
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