08/09/2017

Medir anos de vida perdidos dá quadro mais claro do peso das doenças para a sociedade

Redação do Diário da Saúde

Fardo social da doença

Sempre que falam sobre longevidade e riscos de morrer por alguma causa, os pesquisadores usam dados estatísticos na forma de "tendências de mortalidade a longo prazo".

Mas essas tendências talvez possam ser melhor compreendidas mudando ligeiramente o foco, concentrando-se não na causa da morte, mas nos anos de vida perdidos - quanto anos a pessoa que faleceu deixou de viver em função da sua expectativa de vida.

"Focar nos anos de vida dá uma perspectiva sobre o fardo social e destaca as disparidades no fardo de cada doença," defende o Dr. Glen Taksler, das Clínicas Cleveland (EUA). "Reordenar a mortalidade pelos anos de vida perdidos pinta uma imagem mais completa da mudança nas taxas de mortalidade e sua distribuição entre diferentes populações".

Ganhos e perdas

Para chegar a essa métrica, Taksler calculou os anos de vida perdidos para as 15 principais causas de morte nos EUA entre 1995 e 2015 e os comparou ao número de mortes.

Uma das diferenças é que condições que afetam desproporcionalmente pessoas mais jovens aparecem mais proeminentes quando medidas por anos de vida perdidos, expondo o fardo social da doença. Por exemplo, destacando a crescente epidemia de sobredosagem de drogas, todos os ganhos obtidos nos últimos 20 anos na prevenção e no tratamento do HIV foram compensados pelo aumento nos anos de vida perdidos por essas mortes, catalogadas como acidentais.

Outro exemplo: Embora a doença cardíaca seja a principal causa de morte em geral, outras condições, como o câncer, geram maior perda de anos de vida.

Em 2015, as doenças cardíacas causaram 6% mais óbitos do que o câncer, mas o câncer causou a perda de 23% mais anos de vida porque o câncer é mais comum nos jovens e até a faixa média da terceira idade do que o infarto.

Anos de vida perdidos

Este tipo de análise também destaca o sucesso diferencial no tratamento das doenças cardíacas e do câncer. As melhorias na prevenção primária e secundária para as doenças coronarianas, juntamente com melhores tratamentos para a condição aguda - como a angioplastia primária e a colocação de stents - levaram a uma redução de 42% nos anos de vida perdidos pelo infarto agudo do miocárdio desde 1995.

Em contraposição, os anos de vida perdidos para o câncer aumentaram 16% de 1995 a 2015 - isto se deve principalmente ao crescimento da parcela da população na meia-idade. Os anos de vida perdidos só diminuíram para seis tipos de câncer, destacando a necessidade de centrar esforços de pesquisa nos cânceres que apresentam menor taxa de sobrevivência para obter ganhos ao nível populacional, defende Taksler.

O pesquisador destaca que os anos de vida perdidos não são um conceito novo, mas raramente tem sido usado para avaliar as tendências de mortalidade a longo prazo para todas as principais causas de morte.

"Olhar para as tendências de mortalidade através dos anos de vida perdidos nos diz que o progresso futuro na prevenção e no tratamento das doenças cardíacas crônicas, cânceres e vícios parece ser extremamente importante," disse o Dr. Taksler. "Acreditamos que esta forma de pensar pode embasar melhor os formuladores de políticas para priorizar o financiamento das pesquisas e medir os progressos em direção à redução da mortalidade com base no fardo da doença."

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