Defesa agressiva
A conceituada revista Nature apresentou nesta semana um longo artigo ponderando a aprovação do feijão transgênico da Embrapa.
"Junto com o arroz ou misturado na feijoada, o feijão é um componente essencial da culinária brasileira," começa a reportagem, lembrando que agora o país será pioneiro no uso de um grão fruto da engenharia genética para consumo humano.
"Grupos ambientalistas e o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, ligado à presidência da república, pediram mais transparência na biotecnologia e na tomada de decisões, e mais pesquisas para descartar os riscos à saúde derivados do feijão transgênico," pondera a revista.
Mas essas demandas não foram ouvidas.
Referindo-se à CTNBio, a comissão que aprova os organismos transgênicos no Brasil, a revista afirma que "os membros atuais da comissão defenderam agressivamente sua posição".
Não existe segurança absoluta
"Os agricultores têm plantado grandes áreas de milho, soja e algodão geneticamente modificados, com pequena resistência por parte do público, mas a Embrapa agora está lidando com um produto que as pessoas comem em grandes quantidades a cada dia," afirmou Rubens Nodari, da Universidade Federal de Santa Catarina, ouvido pela Nature.
Quem defendeu mais "agressivamente" a aprovação do feijão transgênico foi Edison Paiva, presidente da CTNBio, que afirmou à revista que os opositores à aprovação do alimento humano transgênico estão querendo que os cientistas garantam segurança absoluta, o que seria impossível.
Embora os cientistas não possam garantir que não haverá riscos à população, Francisco Aragão, da Embrapa, afirmou que "as análises de segurança não mostraram razões para preocupações com relação ao feijão [transgênico]".
Armamento molecular
Aragão afirmou ainda que o feijão geneticamente modificado não produz "proteínas não-familiares", como acontece com outros grãos transgênicos, e que poderiam causar reações alérgicas quando esses grãos são ingeridos.
O feijão transgênico produz apenas fragmentos de RNA projetados para reagir e neutralizar o RNA dos vírus invasores.
Herve Vanderschuren, biotecnólogo suíço também ouvido pela revista, afirma que as plantas produzem fragmentos de RNA naturalmente para se defender de ataques virais, "e não há evidências de que esse armamento molecular seja perigoso para os humanos".
"A comissão de biossegurança tem adotado uma posição favorável à biotecnologia nos anos anteriores, ajudando o Brasil a se tornar o segundo maior produtor de cereais geneticamente modificados, atrás dos Estados Unidos," afirma a Nature.
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