Zika persistente
Em meio à relativa calmaria que o inverno impôs à epidemia de zika, uma descoberta importante deverá deixar em alerta o sistema de saúde responsável pelo acompanhamento das crianças: o vírus pode continuar danificando o cérebro dos bebês por semanas após o nascimento.
"Ainda não se havia descrito uma infecção tão prolongada após o nascimento", afirma o virologista Edison Durigon, da Universidade de São Paulo (USP), um dos autores do estudo, que foi publicado no New England Journal of Medicine.
O estudo descreve o caso de um bebê do sexo masculino que foi infectado pelo vírus ainda durante a gestação e que manteve o zika ativo no organismo por ao menos 67 dias após o parto. Curiosamente, ele tinha o crânio acima da medida padrão usada para o diagnóstico da microcefalia.
Paralisia e fisioterapia
Os pesquisadores não sabem dizer por quanto tempo o zika continuou ativo porque, por volta dos três meses de idade, os pais da criança tiveram dificuldade de seguir com as consultas no hospital e o acompanhamento passou a ser a distância.
Um novo exame realizado aos seis meses de idade mostrou que o garoto já estava livre do vírus, mas o exame clínico mostrou restrições de movimento: um grau de paralisia em um dos lados do corpo e dificuldade para segurar objetos.
"Esses efeitos só são percebidos à medida que a criança se desenvolve porque é quando deveria começar a adquirir certas habilidades", explica o pediatra Eitan Berezin, que fez seu acompanhamento. "Para esse garoto, em particular, acho que a fisioterapia pode ajudar a melhorar os movimentos para que ele venha a ter um bom padrão de independência."
"Não sabemos nada sobre o que ocorre com as crianças que adquirem o vírus após o nascimento. Estamos em uma espécie de entressafra da epidemia, com o risco de enfrentar em breve uma segunda onda de zika. Deveríamos estar preparados para iniciar o acompanhamento dessas crianças," alertou Edison Durigon.
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