Interferons
O vírus zika é capaz de bloquear a ativação do sistema imunológico da pessoa infectada.
A constatação veio a partir do mapeamento genético do vírus que circula em Pernambuco, sequenciado pela primeira vez no estado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Pernambuco em parceria com profissionais da Universidade de Glasgow, no Reino Unido.
De acordo com o pesquisador Rafael França, um dos responsáveis pela pesquisa, uma pequena parte da carga genética do zika pode bloquear a ativação de um componente do sistema imune considerado importante para combater infecções virais: o interferon, que combate a replicação do vírus.
"Se o zika bloqueia a produção desses interferons ele vai conseguir replicar, então ele vai ter um processo infeccioso melhor, vai conseguir infectar muito mais a célula, vai ser mais agressivo", disse Rafael.
Essa característica é encontrada em outros vírus da mesma família, como o vírus da dengue, segundo o pesquisador. No caso do zika, porém, a habilidade é ainda maior: "É um vírus que tem uma vantagem evolutiva em relação ao vírus da dengue".
A descoberta deve ajudar os pesquisadores a formular possíveis métodos terapêuticos, já que se identificou uma característica do vírus que pode ser combatida. "A gente pode interferir no [gene] que o vírus bloqueia no sistema imune, e tentar bloquear essa capacidade do vírus como uma forma de terapia", exemplifica Rafael.
Mutações do zika
Com o mapeamento, os pesquisadores identificaram que o vírus zika de Pernambuco sofreu mutações em relação ao vírus encontrado na Ásia. Esta pesquisa, contudo, não é capaz de indicar se essas mutações foram responsáveis pelo maior número de casos de Síndrome Congênita do Zika identificados em Pernambuco - que inclui condições como a microcefalia.
"Ainda é cedo, porque a gente ainda não tem os genomas completos dos outros lugares. A partir do momento que outros pesquisadores forem sequenciando os vírus e fazendo a leitura do genoma, a gente vai poder comparar", explicou o pesquisador.
O artigo com os resultados foi publicado na revista PLOS Neglected Tropical Disease. O sequenciamento genético foi realizado a partir de uma amostra coletada de um paciente infectado em 2015, no início da epidemia.
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