Domando o vírus zika
O vírus zika, com sua capacidade de destruir células progenitoras neurais, pode ser colocado a serviço do bem.
Em vez de atacar as células em rápido crescimento dos fetos e recém-nascidos, ele pode ser "domado" e convencido a atacar as células do câncer, com seu crescimento desenfreado.
Depois que se descobriu a capacidade do zika de infectar e destruir as células progenitoras neurais - que nos fetos dão origem aos diversos tipos de células cerebrais - pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) testaram o vírus em linhagens de glioblastoma, o tipo mais comum e agressivo de câncer do sistema nervoso central em adultos, e comprovaram que o vírus zika combate o tumor cerebral.
Agora, Jeany Delafiori e seus colegas descobriram que, mesmo após ser inativado por alta temperatura, o vírus é capaz de inibir também a proliferação das células do câncer de próstata.
"Como também já foi confirmada a transmissão sexual do zika e a preferência do vírus por infectar células reprodutivas, decidimos agora testar seu efeito contra o câncer de próstata," justificou a pesquisadora.
Zika contra o câncer
Para inibir o potencial do vírus zika de causar infecção, a equipe ligou a ele uma nanopartícula conhecida como "vesícula de membrana externa", retirada da bactéria Neisseria meningitidis, que já se sabia produzir uma resposta imune significativa, com um grande potencial para tratamento de tumores, e, a seguir, aqueceu tudo a uma temperatura de 56º C durante uma hora.
O passo seguinte foi colocar uma cultura de células PC-3 (adenocarcinoma de próstata) em contato com o vírus inativado e, após 24 e 48 horas, comparar com outro grupo de células tumorais não exposto ao patógeno.
"Observamos um efeito citostático [inibição da reprodução celular] seletivo para as células PC-3. Na análise feita após 48h, a linhagem que ficou em contato com o vírus inativado apresentou um crescimento 50% menor que a linhagem controle," contou Delafiori.
Metabólitos
Analisando o modo como o zika alterou o metabolismo das células tumorais, os pesquisadores identificaram 21 marcadores capazes de descrever de que modo o vírus inibiu a proliferação das células tumorais.
O próximo passo da pesquisa será refazer os testes em animais de laboratório. Se os bons resultados se repetirem, parcerias com empresas farmacêuticas poderão abrir caminho para os testes em humanos.
Além disso, a equipe continuará trabalhando com cada um dos 21 metabólitos identificados, em busca tanto do entendimento das alterações bioquímicas induzidas pelo vírus zika, quanto na busca de alvos terapêuticos contra o câncer de próstata e outros.
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