Tesouras genéticas
Mais um estudo mostrou que as "tesouras" de edição genética, que ganharam o Nobel de Química de 2020, trazem consigo riscos sérios de danos, inesperados e imprevisíveis.
As tesouras genéticas ou, mais tecnicamente, métodos de edição genética CRISPR, podem ser usadas para alterar seções específicas do genoma, o que fez com que fossem rapidamente apontadas como ferramentas com potencial para revolucionar o tratamento das doenças genéticas.
Infelizmente, há um porém: Sob certas condições, a alteração de um gene causador de uma doença, por exemplo, pode gerar novos defeitos genéticos. Já foram documentados tantos problemas que alguns cientistas afirmam que, mesmo quando a edição genética CRISPR-Cas9 dá certo, coisas dão errado, o que inclui de mutações que podem passar para os filhos até o aumento no risco de câncer.
Federica Raimondi e colegas da Universidade de Zurique (Suíça) estavam estudando especificamente o caso de uma doença imunológica chamada doença granulomatosa crônica, uma doença hereditária rara que afeta cerca de uma em cada 120.000 pessoas. A doença prejudica o sistema imunológico, tornando os pacientes suscetíveis a infecções graves, podendo ser fatal. Ela é causada pela ausência de duas letras, chamadas bases, na sequência de DNA do gene NCF1, o que resulta na incapacidade de produzir um complexo enzimático que desempenha um papel importante na defesa imunológica contra bactérias e fungos.
A proposta inicial da equipe era usar as tesouras genéticas para "cortar fora" os defeitos no gene, na tentativa de curar a doença. Mas as coisas não saíram como esperado.
CRISPR dando errado
Inicialmente, a equipe conseguiu usar o sistema CRISPR para inserir as letras faltantes no lugar certo do gene. Eles realizaram os experimentos em culturas de células imunes que tinham o mesmo defeito genético que pessoas com doença granulomatosa crônica.
Infelizmente, o resultado ficou longe de ser perfeito. Algumas das células reparadas apresentaram novos defeitos: Seções inteiras do cromossomo onde o reparo ocorreu estavam faltando.
Segundo a equipe, a razão para isso é a constelação genética especial do gene NCF1, que está presente três vezes no mesmo cromossomo, uma vez como um gene ativo e duas vezes na forma de pseudogenes. Esses pseudogenes têm a mesma sequência que o NCF1 defeituoso e não são normalmente usados para formar o complexo enzimático.
As tesouras moleculares do CRISPR não conseguem distinguir entre as diferentes versões do gene e, portanto, acabam cortando a fita de DNA em vários locais do cromossomo - no gene NCF1 ativo, bem como nos pseudogenes. Quando as seções são posteriormente reunidas, segmentos inteiros do gene podem estar desalinhados ou ausentes. As consequências médicas são imprevisíveis e, no pior dos casos, contribuem para o desenvolvimento da leucemia.
"Isso exige cautela ao usar a tecnologia CRISPR em um ambiente clínico," disse a professora Janine Reichenbach, coordenadora do estudo.
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