26/06/2019

Vírus do surto de febre amarela surgiu no Pará em 1980

Com informações da Agência Fapesp

Migração da febre amarela

A origem do vírus responsável pelo recente surto de febre amarela ocorrido do fim de 2016 ao início de 2018, o maior dos últimos 40 anos, foi traçada por cientistas do Instituto Adolfo Lutz (IAL) e da Universidade de São Paulo (USP).

Por meio de estudo molecular do vírus da febre amarela encontrado em macacos mortos e em mosquitos, os pesquisadores descobriram que a linhagem causadora do surto teve origem no Pará, em 1980.

De lá, o vírus infectou macacos e se espalhou por toda a região amazônica, chegando a atingir a Venezuela e o Suriname. A partir do início dos anos 2000, sempre por meio da infecção de macacos, a doença migrou em direção às regiões Centro-Oeste e Sudeste, até finalmente chegar ao Estado de São Paulo, em 2013.

As primeiras mortes de humanos em São Paulo ocorreram em 2016.

Desde meados de 2016, foram confirmados 2.245 casos da doença, com 764 mortes, segundo dados do Ministério da Saúde. Até então, o ano 2000 tinha registrado o maior número de casos desde 1980, quando o governo começou a notificação. Na época, 40 mortes foram associadas ao surto.

Febre amarela em macacos

Outra face do problema é a infecção de macacos pelos mesmos mosquitos que transmitem o vírus para humanos.

Desde 2016, a vigilância epidemiológica dos estados do centro-sul do país - onde se concentra o surto - coletaram carcaças de mais de 10 mil macacos encontradas em florestas e parques. Entre os animais afetados há bugios (ou guaribas), macacos-prego e diversas espécies de saguis. O vírus da febre amarela foi detectado em 3.403 deles, segundo boletim epidemiológico de febre amarela do Ministério da Saúde.

"Bandos de bugios com mais de 80 indivíduos foram inteiramente dizimados," conta Mariana Sequetin Cunha, pesquisadora no Núcleo de Doenças de Transmissão Vetorial do IAL, referindo-se ao ocorrido no fim de 2017, quando bugios do Parque Horto Florestal, na Zona Norte da cidade de São Paulo, foram mortos pela febre amarela.

Febre amarela

A febre amarela é uma doença aguda causada por um vírus transmitido a macacos e humanos por meio da picada de mosquitos infectados. Uma das características do quadro é a icterícia, que provoca uma coloração amarelada na pele e nos olhos.

No ciclo de transmissão silvestre da febre amarela, o vírus circula entre os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes e macacos bugios, pregos e saguis. Nesse ciclo, o homem é considerado um hospedeiro acidental, infectando-se ao entrar em áreas de mata e ambientes rurais.

No ciclo de transmissão urbana, a interação ocorre entre mosquitos da espécie Aedes aegypti e o homem, que nesse caso representa o hospedeiro principal. A febre amarela era endêmica nas regiões Sul e Sudeste no início do século 20. Foi graças a campanhas de vacinação, aliadas ao combate aos focos do Aedes, que a transmissão urbana foi erradicada.

Nas duas últimas décadas, foram registradas transmissões de febre amarela a humanos além dos limites da região amazônica, área onde a doença ainda é considerada endêmica. Foram registrados casos em humanos e em macacos na Bahia, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.

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