Ilusão do antienvelhecimento
Além da falta de comprovação científica da maioria delas quanto à sua eficácia, as novas terapias de combate aos efeitos do envelhecimento podem comprometer o bom funcionamento do organismo e aumentar os riscos de câncer.
O alerta contundente é da presidenta da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) , Silvia Pereira.
"Estão vendendo ilusão de antienvelhecimento para a população sem nenhuma comprovação científica e que pode fazer mal a saúde. Com a idade, o metabolismo mais lento e a ingestão de algumas substâncias podem aumentar o risco de várias doenças", alertou a médica.
A reposição de nutrientes e o uso de remédios, como hormônio do crescimento (GH), para ganhar músculos e queimar gordura com facilidade, podem aumentar a incidência de cânceres.
Segundo a médica, estudos sobre vitaminas E, C e betacaroteno, por exemplo, apontam que, se consumidas em excesso, essas substâncias aumentam o risco de câncer e não reduzem doenças crônico-degenerativas.
Velhice não é doença
O diretor da entidade, Rubens de Fraga, ressaltou que velhice não é doença e, portanto, não deve ser prevenida.
"Hoje os consumidores estão obcecados com o envelhecimento. Esse mercado gera US$ 100 bilhões por ano no mundo. Tem seu lado positivo, que é a busca da alimentação balanceada e do exercício físico.
"Mas tem o lado negativo, que é o medo das rugas e a idolatria dos ideais de juventude eterna. Os velhos são bibliotecas vivas e em muitos casos sustentam famílias inteiras. Não existe uma pílula mágica. O importante é buscar envelhecer com autonomia e independência," afirma.
Fraga criticou a venda dos chamados hormônios bioidênticos para retardar a velocidade do envelhecimento, que são produzidos em laboratório, e passam por um processo industrial de síntese, transformação ou de modificação na sua estrutura química.
"Não existe estudo científico sério que ateste qualquer benefício dos hormônios chamados bioidênticos manipulados. A fabricação individualizada de um hormônio é praticamente impossível," garante ele.
Antienvelhecimento sem base científica
Tendo em vista a proliferação de propostas de tratamentos que alegam prevenir, retardar, modular ou reverter o processo de envelhecimento, bem como prevenir doenças crônicas e promover o envelhecimento saudável através de reposição hormonal, suplementação vitamínica e/ou uso de antioxidantes, a SBGG designou um grupo de especialistas para realizar revisão da literatura científica sobre o assunto.
Foram consultados 164 estudos com o objetivo de avaliar a eficácia e a segurança do uso dessas substâncias com os fins alegados pelos produtos colocados no mercado.
O levantamento, divulgado em nota pela SBGG, concluiu que, em estudos clínicos de boa qualidade metodológica, nenhuma vitamina, antioxidante, reposição hormonal ou qualquer outra substância demonstrou ser capaz de retardar ou reverter o processo do envelhecimento.
Segundo a entidade, é dever do médico e dos demais profissionais de saúde empreenderem ações preventivas para evitar o tratamento excessivo e proteger os idosos de intervenções inapropriadas e sugerir-lhes alternativas eticamente aceitáveis.
Isso porque os idosos são mais sensíveis à iatrogenia - alterações patológicas provocadas no paciente por tratamentos de qualquer tipo - e aos efeitos colaterais adversos dos medicamentos.
Portanto, a prescrição para quaisquer indivíduos, principalmente os mais vulneráveis, deve ser baseada em evidências de eficácia e segurança, bem como em indicações estabelecidas cientificamente.
Segundo a entidade, proliferam cursos de extensão, educação continuada e pós-graduação em "medicina antienvelhecimento", ou com denominações similares, mas cuja base é o treinamento de profissionais para a prescrição de hormônios e outros tratamentos ainda sem comprovação científica, com o suposto objetivo de prevenir, retardar, modular ou reverter o processo de envelhecimento.
Em vez disso, os melhores estudos científicos têm demonstrado a influência do estilo de vida saudável, das atividades físicas e da dieta balanceada para o que se convencionou chamar de envelhecimento bem-sucedido, ativo ou saudável, e que essas orientações jamais devem ser esquecidas na prática clínica.
Recomendações sobre tratamentos antienvelhecimento
Com base no estudo das conclusões científicas publicadas, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia apresentou várias recomendações aos seus associados médicos:
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