23/04/2009

Transplante de células-tronco livra diabéticos das injeções de insulina

Fábio de Castro - Agência Fapesp
Transplante de células-tronco livra diabéticos das injeções de insulina
Tratamento com base em quimioterapia e transplante de células-tronco diminui e até elimina necessidade das injeções de insulina para maior parte dos pacientes de diabetes tipo 1.
[Imagem: Fapesp]

Transplante de células-tronco

Iniciado em 2003, um tratamento inovador para pacientes de diabetes tipo 1 - baseado em altas doses de quimioterapia e no transplante de células-tronco extraídas de seus próprios organismos - apresentou resultados promissores em abril de 2007. De um grupo de 15 pessoas, 14 foram dispensados das altas doses diárias de insulina, pois seus organismos voltaram a produzir a substância.

Dois anos depois, a mesma equipe de pesquisadores do Centro de Terapia Celular (CTC) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), coordenada pelo médico Julio Voltarelli, volta a mostrar resultados importantes.

Diabético livre da insulina

Com um acompanhamento mais prolongado, o novo estudo, publicado também no Journal of the American Medical Association, revela que a maioria dos pacientes permanece independente da insulina, com bom controle glicêmico. Além disso, aqueles que precisaram voltar a injetar a substância tomam doses bem mais baixas.

"Aumentamos o seguimento e mostramos que, apesar de verificar recaída em um número de pacientes, a produção endógena de insulina aumenta tanto no grupo que recai como naquele que se torna independente das injeções", disse Voltarelli à Agência FAPESP.

O diabetes tipo 1, também conhecido como diabetes juvenil ou insulino-dependente, atinge cerca de 1 milhão de pessoas no Brasil. Segundo Voltarelli, apesar de corresponder a, no máximo, 10% dos casos da doença, é justamente o tipo mais grave, principalmente para crianças.

O estudo

Os estudos foram realizados com pacientes em estágio inicial da doença, até seis semanas após o diagnóstico. O grupo de 15 pacientes estudado em 2007 foi aumentado para 23. O acompanhamento total dos voluntários, que têm entre 13 e 31 anos de idade, foi feito de novembro de 2003 a abril de 2008. A média de acompanhamento, desta vez, é de 30 meses.

"Desses 23, 20 foram inicialmente dispensados de tomar insulina. Constatamos que oito deles precisaram voltar a tomar a substância. É, sem dúvida nenhuma, um excelente resultado", afirmou Voltarelli.

Imunossupressão

Segundo o também professor titular do Departamento de Clínica Médica da FMRP-USP, a estratégia consiste em submeter os pacientes à imunossupressão - isto é, injeção de altas doses de drogas que desativam o sistema imunológico, impedindo-o de atacar as células do pâncreas.

Isso é necessário uma vez que o diabetes tipo 1 faz com que as próprias células do sistema de defesa do corpo ataquem as que estão no pâncreas e são especialistas na produção de insulina.

Com o sistema imune inativo, são injetadas no sangue de cada paciente células-tronco de seu próprio corpo - transplante que possibilita a reconstituição da medula e do sistema imunológico do doente, após receber agressiva quimioterapia.

Com isso, consegue-se uma recuperação rápida do sistema imune - em até nove dias -, que não ataca mais o pâncreas. A maioria dos pacientes se vê então livre da insulina.

Tratando as recaídas

Na nova pesquisa, pacientes que voltaram a receber insulina, em doses bem menores do que as necessárias antes do tratamento, segundo Voltarelli, foram submetidos a um novo tratamento e alguns deles conseguiram ficar novamente independentes.

"Atualmente, temos 14 pacientes dispensados de tomar insulina e seis que seguem tomando. Dois deles tiveram recaída, mas voltaram a ficar livres da insulina depois de um novo tratamento metabólico", disse.

De acordo com o coordenador do CTC, os pacientes continuarão a ser acompanhados e os resultados serão comparados com uma outra fonte.

Substituição da quimioterapia

"Estamos testando uma nova forma de imunossupressão biológica para substituir a quimioterapia. Para isso, usamos células mesenquimais, que por si só são imunossupressoras. Elas são retiradas da medula de parentes dos pacientes, cultivadas fora do organismo e depois injetadas. Estamos testando essa estratégia e comparando com a antiga", disse.

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