Attinimicina
Um novo composto antifúngico foi descoberto por pesquisadores brasileiros e norte-americanos em bactérias que habitam os ninhos de formigas da tribo Attini (subtribo Attina), à qual pertencem a saúva e outras espécies conhecidas como "cortadeiras".
Em testes com camundongos, a substância - batizada de attinimicina - mostrou-se capaz de combater um microrganismo causador de doenças em humanos.
"Tivemos a oportunidade de amostrar formigueiros em várias regiões brasileiras, entre elas Amazônia, Mata Atlântica e o trecho de transição desta para o Cerrado. O que mais nos chamou a atenção foi a ampla distribuição geográfica da attinimicina, presente em 73% das bactérias associadas a formigas-cortadeiras coletadas no Brasil. Tal fato sugere que a substância tem um papel ecológico relevante," contou Mônica Pupo, professora da USP em Ribeirão Preto.
As formigas-cortadeiras mantêm relações simbióticas com diversos microrganismos que habitam o formigueiro e isso lhes garante comida e proteção. As folhas que os insetos carregam para dentro do ninho servem como substrato para cultivar fungos da espécie Leucoagaricus gongylophorus, que são o alimento das formigas.
As formigas também alimentam bactérias dos gêneros Pseudonocardia e Streptomyces, que produzem compostos que atuam como defensivos agrícolas, mantendo o jardim de fungos livre de espécies patogênicas.
"As bactérias simbiontes produzem compostos capazes de matar o fungo parasita sem prejudicar a fonte de alimento. Nosso objetivo era descobrir quais são esses compostos e se tinham potencial de tratar doenças que acometem os humanos," conta Mônica.
Antifúngico natural
A nova substância foi encontrada em praticamente todas as amostras coletadas. "Decidimos então investigar melhor essa molécula. A attinimicina tem uma estrutura semelhante à de compostos já conhecidos, mas a sequência de aminoácidos que forma esse composto nunca antes havia sido descrita," contou Mônica.
A ação antifúngica da attinimicina foi testada, por colaboradores norte-americanos da equipe, em camundongos infectados por Candida albicans, que em humanos pode causar lesões em diversos tecidos, principalmente nas mucosas oral e vaginal, trato urinário e gastrointestinal.
O efeito do tratamento foi comparado ao de medicamentos antifúngicos já usados na clínica (classe dos azóis), entre eles o fluconazol. Segundo os pesquisadores, a atividade da attiminicina foi equivalente à dos fármacos já disponíveis. A vantagem é que, por se tratar de uma molécula nova, os microrganismos ainda não desenvolveram mecanismos de resistência.
"A attinimicina tem atividade antifúngica significativa, mas ainda não tem uma estrutura química adequada para se tornar um medicamento. A ideia é que ela sirva como modelo para o desenho de novos candidatos a fármacos e para entendermos melhor o mecanismo de ação dessas drogas," explicou Mônica.
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