Tratamento da apnéia
Um grupo de pesquisadores brasileiros demonstrou que o tratamento da apnéia obstrutiva do sono (AOS) pode prevenir a arteriosclerose, diminuindo o risco de ataques cardíacos e acidentes vasculares. O tratamento é feito com o uso do equipamento conhecido como CPAP (sigla em inglês para pressão positiva contínua nas vias aéreas).
O estudo foi feito por pesquisadores do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. O trabalho foi publicado na edição de outubro do American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, revista da Sociedade Torácica Norte-Americana.
Relação entre apnéia e arteriosclerose
De acordo com Luciano Drager, primeiro autor do artigo, pela primeira vez um estudo demonstra uma relação direta entre a AOS e a arteriosclerose. "O avanço que a pesquisa traz à área, que ela acrescenta na literatura, é que a apnéia está surgindo como um novo fator de risco para a aterosclerose", disse à Agência FAPESP.
CPAP
O CPAP, segundo Drager, pressuriza o ar ambiente, enviando-o por uma tubulação a uma máscara de silicone que deve ser usada durante o sono. Se usado corretamente, o aparelho pode eliminar completamente os eventos respiratórios.
A AOS é uma condição clínica caracterizada por obstruções repetitivas da via aérea superior que ocorrem durante o sono. "É um dos distúrbios de sono mais freqüentes. Há um fechamento das vias aéreas superiores e o indivíduo tem sensação de sufocamento e roncos freqüentes", explicou Drager.
Alterações nos padrões de sono
As pausas ocorrem várias vezes durante a noite, causando alterações nos padrões de sono. "Com as freqüentes ocorrências durante o sono, a pessoa desperta várias vezes e apresenta quedas na oxigenação. A conseqüência destes fenômenos inclui a excessiva sonolência diurna, má qualidade de vida, problemas de memória e baixo rendimento no trabalho", disse.
Drager explica que, além de todo o impacto social, trabalhos recentes têm indicado crescentemente a relação da AOS com doenças cardiovasculares. Pacientes não tratados, ao longo dos anos, têm maior chance de desenvolver infarto do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais, por exemplo.
Apnéia acelera em dez anos o envelhecimento arterial
"Sabíamos que o tratamento com CPAP diminuía esses eventos, mas queríamos entender os mecanismos que estavam por trás disso. Há dois anos, nosso grupo demonstrou que pacientes com AOS apresentavam marcadores precoces de arteriosclerose em relação a um grupo de voluntários sadios e passamos a estudar isso", disse o médico.
Como os pacientes com AOS não tinham hipertensão, não fumavam e estavam isentos de fatores de risco, o estudo feito em 2005 indicou uma clara associação entre a apnéia e a arteriosclerose.
"Conseguimos mostrar que a AOS acelera em quase dez anos o envelhecimento arterial e a progressão da arteriosclerose - isto é, quem tinha apnéia apresentava marcadores tão altos quanto os de pessoas dez anos mais velhas", destacou.
Colesterol e glicemia
Durante os dois anos seguintes, os pesquisadores estudaram efeitos do CPAP em pacientes com apnéia grave - isto é, que apresentavam mais de 30 eventos respiratórios por hora de sono - e sem outras comorbidades.
"Estudamos 24 voluntários divididos em dois grupos aleatoriamente: um não recebia tratamento e o outro usava o CPAP. Fizemos medidas dos marcadores arteriais no início do estudo e após quatro meses da randomização", explicou Drager.
Além do colesterol, da glicemia e de fatores ligados à inflamação - importante componente da arteriosclerose -, os cientistas mediram marcadores de atividade simpática.
"Observamos que os indivíduos tratados com o CPAP apresentaram reduções significativas dos marcadores, incluindo rigidez arterial e espessura da camada íntima-média da carótida. O grupo controle não demonstrou a mesma redução", disse o médico do InCor.
Estudo mais amplo
De acordo com Drager, antes e depois do tratamento os voluntários não tiveram alteração de peso, de índice de massa corpórea, de colesterol ou de glicemia. Mas os pacientes tratados com CPAP mostraram mudanças importantes nos marcadores inflamatórios e naqueles ligados à atividade simpática. No grupo que não recebeu tratamento, os marcadores continuaram estáveis.
Drager alerta, no entanto, que o estudo tem limitações, pois envolve um número pequeno de casos e os pacientes estudados não apresentavam comorbidades, isto é, patologias geralmente associadas à apnéia, como hipertensão e diabetes.
"Não podemos extrapolar os resultados para todos os pacientes com AOS. Mas os resultados nos animaram a iniciar um projeto maior, com mais pacientes, para estudar o efeito do CPAP sobre o paciente padrão de AOS, com várias comorbidades associadas", afirmou.
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