12/01/2024

Sonhar acordado é importante para a plasticidade cerebral

Redação do Diário da Saúde

Sonhar acordado

Você está sentado em silêncio e, de repente, seu cérebro se desliga do mundo e vagueia para algo totalmente diferente - talvez uma experiência recente ou uma memória antiga. Você acabou de sonhar acordado.

No entanto, apesar da onipresença desta experiência, o que acontece no cérebro enquanto se sonha acordado é uma questão ainda pouco compreendida pelos neurocientistas.

Agora, um experimento com camundongos levou uma equipe liderada por pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard (EUA) um passo mais perto de entender o fenômeno. Para isso, a equipe rastreou a atividade dos neurônios no córtex visual do cérebro dos camundongos enquanto os animais viam uma série de imagens e permaneciam em um estado de vigília tranquila.

Eles descobriram que, ocasionalmente, esses neurônios disparavam em um padrão semelhante ao que ocorria quando o animal olhava para uma imagem real, sugerindo que o camundongo estava sonhando acordado sobre a imagem. Além disso, os padrões de atividade durante os primeiros devaneios do camundongo previram como a resposta do cérebro à imagem mudaria ao longo do tempo.

Mas os mecanismos de como isso funciona foram completamente inesperados.

Ao longo do dia, e ao longo dos dias, os padrões de atividade observados quando os camundongos olhavam as imagens mudaram - o que os neurocientistas chamam de "deriva representacional". No entanto, esta tendência não foi aleatória. Ao longo do tempo, os padrões associados às imagens tornaram-se ainda mais diferentes uns dos outros, até que cada um envolvesse um conjunto quase totalmente separado de neurônios. Notavelmente, o padrão visto durante os primeiros devaneios de um animal sobre uma imagem previu como o padrão se tornaria quando ele olhasse para a imagem mais tarde.

Plasticidade cerebral

O experimento fornece evidências convincentes, ainda que preliminares, de que os devaneios podem moldar a resposta futura do cérebro ao que vemos. Esta relação causal precisa ser confirmada em pesquisas futuras, advertiu a equipe, mas os resultados oferecem uma pista intrigante de que os devaneios durante a vigília tranquila podem desempenhar um papel na plasticidade cerebral, a capacidade do cérebro de se remodelar em resposta a novas experiências.

Para os pesquisadores, os resultados de seu estudo e de outros similares indicam que pode ser importante abrir espaço para momentos de vigília tranquila que levem a devaneios.

Para um camundongo, isso pode significar uma pausa na visualização de uma série de imagens; para um ser humano, isso pode significar uma pausa na rolagem da tela no celular.

"Estamos bastante confiantes de que, se você nunca se permitir nenhum tempo de inatividade, não terá tantos desses eventos de devaneio, que podem ser importantes para a plasticidade cerebral," disse o professor Mark Andermann.

Checagem com artigo científico:

Artigo: Cortical reactivations predict future sensory responses
Autores: Nghia D. Nguyen, Andrew Lutas, Oren Amsalem, Jesseba Fernando, Andy Young-Eon Ahn, Richard Hakim, Josselyn Vergara, Justin McMahon, Jordane Dimidschstein, Bernardo L. Sabatini, Mark L. Andermann
Publicação: Nature
DOI: 10.1038/s41586-023-06810-1
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