09/11/2018

Remédio da hepatite C elimina vírus chikungunya e febre amarela

Com informações da Agência Fapesp
Remédio da hepatite C elimina vírus chikungunya e febre amarela
Fármaco capaz de eliminar os vírus da chikungunya e da febre amarela é identificado. Infelizmente, o sofosbuvir é caríssimo e está no centro de uma polêmica internacional.
[Imagem: Rafaela M. Bonotto et al. - 10.12688/f1000research.16498.1]

Um remédio para muitas doenças

Pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da USP descobriram que o medicamento sofosbuvir, utilizado no tratamento da hepatite C crônica, é capaz de eliminar também os vírus da chikungunya e da febre amarela.

"Células humanas infectadas pelo vírus da chikungunya foram tratadas com sofosbuvir e o fármaco eliminou o vírus sem danificar as células. A droga se mostrou 11 vezes mais efetiva contra o vírus do que contra as células," disse a pesquisadora Rafaela Milan Bonotto.

Esta é uma linha de pesquisa crescente - devido à dificuldade de desenvolvimento de novos fármacos, os cientistas têm-se dedicado cada vez mais a verificar se medicamentos já aprovados poderiam ter efeito sobre outras condições além daquelas para as quais cada remédio foi aprovado.

"O processo para obtenção de um fármaco é extremamente demorado e caro. O tempo entre o início da pesquisa e a disponibilização do produto no mercado é, em média, de 12 anos. O custo é da ordem de US$ 1,5 bilhão ou mais. O sofosbuvir é uma droga que passou por todo o processo de aprovação para uso humano. Isso possibilita que ela possa vir a ser utilizada contra a chikungunya em um a três anos. O custo, estimado em cerca de US$ 500 mil, seria muito menor," detalhou o professor Lúcio Freitas Júnior, coordenador da equipe.

O pesquisador lembra que a chikungunya é uma doença grave não apenas pelo episódio agudo em si - que apresenta um quadro semelhante ao da dengue -, mas por poder deixar como sequela dores articulares altamente debilitantes, que se estendem por meses ou anos, e podem eventualmente incapacitar a pessoa a exercer sua atividade profissional e até mesmo a sair da cama.

"Ainda não sabemos com precisão como a droga atua em termos moleculares. O que constatamos foi o resultado macroscópico: a eliminação do vírus e a preservação das células. No tratamento da hepatite C, o sofosbuvir se mostrou efetivo por inibir a proteína que sintetiza o genoma viral. Pode ser que ocorra o mesmo no caso da chikungunya, mas o mecanismo de ação ainda precisa ser elucidado," afirmou Rafaela.

Remédio caro demais

Embora a descoberta dos pesquisadores brasileiros seja promissora, o sofosbuvir é um medicamento caríssimo e está no centro de uma polêmica envolvendo o laboratório fabricante, as autoridades brasileiras e os cientistas da Fundação Oswaldo Cruz, que já desenvolveram uma versão genérica do medicamento.

Segundo o Ministério da Saúde, comprando o remédio dos laboratórios privados, o custo por paciente de hepatite C chega a R$ 340 mil (US$ 84 mil), o que seria um custo elevado demais no caso de uma epidemia de chikungunya ou febre amarela.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciou em abril deste ano ter firmado parcerias para fabricar uma versão genérica nacional do remédio que poderia ser adotada pelo SUS a um custo de pouco mais de R$ 5 mil, contra os R$ 340 mil do medicamento privado. Na ocasião, a expectativa era de que o genérico estivesse disponível até o final deste ano, ajudando assim a erradicar a hepatite C no país.

Surpreendentemente, em setembro o INPI barrou o genérico e patenteou o sofosbuvir no Brasil, o que gerou protestos inclusive da entidade internacional Médicos sem Fronteiras.

"Atualmente, a Gilead cobra cerca de US$ 4,2 mil por tratamento contra a doença. Em contraste, nos projetos em 13 países onde trata a doença, a Médicos Sem Fronteiras adquire medicamentos genéricos da mesma qualidade dos remédios de marca ao preço de US$ 120," disse a entidade.

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