31/08/2010

Reações ao tratamento do câncer de mama podem ter origem genética

Informe Ensp
Reações ao tratamento do câncer de mama podem ter origem genética
As intercorrências podem surgir no pós-operatório, levando até a condição do linfedema, problema que além do aspecto estético, traz a diminuição motora e a sensibilidade.
[Imagem: Ensp/Fiocruz]

Linfedema

Cerca de 17% das mulheres podem apresentar um edema no braço, conhecido como linfedema, resultante da retirada dos linfonodos axilares durante tratamento cirúrgico do câncer de mama.

Adicionalmente, a realização da quimioterapia subsequente à cirurgia também pode acarretar outras reações adversas, comprometendo as condições físicas e psíquicas dessas pacientes.

Embora o problema seja conhecido, poucos estudos foram feitos sobre os determinantes genéticos dessas complicações, de acordo com o pesquisador Sergio Koifman, que coordena estudo sobre o tema no âmbito do Programa Inova-Ensp, em parceria com outras instituições do Estado do Rio de Janeiro.

O trabalho, também coordenado por Rosana Vianna Jorge, da UFRJ, e Anke Bergmann, do Inca, busca analisar as características genéticas que possam estar envolvidas com o desenvolvimento de linfedema e reações adversas após o tratamento cirúrgico do câncer de mama.

Fatores genéticos e ambientais

O pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Sergio Koifman explica que o projeto está em desenvolvimento com grupos de pesquisadores do Inca, UFRJ, Uerj e Uenf, já tendo sido aprovado no edital de pesquisa clínica do câncer do CNPq, agora ampliado com o Inova-Ensp.

"Nossa meta é obter uma coorte de 600 pacientes com câncer de mama no Rio de Janeiro, todas acompanhadas no Inca, e analisar os fatores genéticos e ambientais associados à ocorrência de linfedema e reações adversas ao tratamento. Desta forma, poderemos compreender melhor as características genéticas que possam estar envolvidas enquanto elementos facilitadores da formação do linfedema e outras complicações", diz.

Koifman ressalta que as intercorrências podem surgir no pós-operatório, levando até a condição do linfedema, problema que além do aspecto estético, traz traz problemas motores e diminui a sensibilidade. "A autoimagem da paciente já se encontra bastante abalada pela intervenção cirúrgica na mama. Há ainda essa possibilidade de limitação funcional do braço.

Adicionalmente, surgem reações adversas com o início da quimioterapia, incluindo fraqueza, náuseas, diarreia, anemia, entre outras, que são também capazes de abalar mais ainda a saúde física, social e psíquica da mulher", explicou o pesquisador. "No caso do linfedema, pela sua frequência, ele tem essa característica de também representar um problema sério para o SUS, seja do ponto de vista do custo adicional do tratamento, de recuperação, isso sem falar do custo humano da ocorrência", afirmou. O ineditismo do projeto faz com que, além de possibilitar melhor entendimento das condições que levam a essa situação, seja possível viabilizar a identificação de grupos de alto risco de virem a desenvolver problemas colaterais.

Causas do linfedema

Segundo Koifman, em decorrência dos tratamentos realizados para controle do câncer (cirurgia, radioterapia e quimioterapia), pode ocorrer obstrução dos vasos linfáticos, tornando o braço mais suscetível ao desenvolvimento de infecção.

O primeiro mecanismo de defesa existente no sistema linfático é constituído pelos gânglios, que podem ser parcialmente ou totalmente retirados durante a cirurgia, o que facilita a passagem de organismos que não seriam tão eficientemente controlados através do sistema imunológico.

No Brasil, aproximadamente 50% das mulheres que chegam no sistema de saúde com câncer de mama já se encontram em estágio avançado, o que implica a realização de intervenções mais extensas para o tratamento do câncer. De acordo com Koifman, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, menor é a necessidade de se realizarem cirurgias extensas, e com ela o risco de desenvolverem linfedema e reações adversas ao tratamento.

Incidência do linfedema

Essa linha de pesquisa sobre a incidência de linfedema subsequente ao tratamento do câncer de mama vem sendo desenvolvida na Ensp há cerca de uma década e consistiu no objeto de estudo de Anke Bergmann em sua dissertação de mestrado e tese de doutorado.

A pesquisadora, atualmente trabalhando no Inca, e também uma das participantes do atual projeto apoiado pelo edital Inova-Ensp, analisou uma coorte com mais de mil mulheres para estudar a incidência de linfedema. "Um aspecto importante observado nesse trabalho é que as mulheres que haviam realizado atividades físicas prévias nos braços, como lavadeiras ou passadeiras, apresentavam menor frequência de linfedema. O sistema vascular, pelo esforço, aliado ao desenvolvimento muscular, parece prevenir a ocorrência dessa complicação", diz Koifman.

Para a equipe do pesquisador, essa é uma informação importante para acoplar ao projeto, uma vez que será levantada uma série de condições genéticas no sentido de identificação de grupos de alto risco. "Até o surgimento de novas opções de tratamento do câncer de mama, a mastectomia continuará sendo uma opção terapêutica, pois representa atualmente a única chance de cura confirmada nos casos iniciais de câncer de mama (câncer in situ). O que se pretende neste estudo, afirmou, é contribuir para a identificação, previamente à realização da cirurgia, de quais seriam aqueles grupos que apresentam riscos mais elevados de virem a desenvolver complicações adicionais como aquelas aqui descritas".

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