Avanços e retrocessos
Você certamente leu ou ouviu recentemente a notícia de que cientistas apagaram uma doença cardíaca genética em embriões humanos usando uma nova técnica de edição de DNA.
Pois talvez seja melhor esquecer essa lembrança, ao menos por enquanto.
Isto porque os resultados, aclamados como "revolucionários", que alegam que as mutações em embriões humanos podiam ser corrigidas de forma segura com uma técnica chamada CRISPR, estão sendo questionados por outros pesquisadores.
Agora, com tempo suficiente para analisar os resultados e o próprio experimento, outros pesquisadores levantaram sérias dúvidas sobre as conclusões da equipe.
A equipe por trás do trabalho afirma que sustenta suas conclusões, mas a controvérsia já demonstra que, no mínimo, ainda há grandes problemas que precisam ser resolvidos antes que alguém tente usar a edição de genes para evitar que as crianças herdem mutações causadoras de doenças.
Mecanismo sem sentido e conserto questionável
No mês passado, a equipe liderada por Shoukhrat Mitalipov, da Universidade de Ciência e Tecnologia do Oregon (EUA), afirmou ter descoberto um novo mecanismo de reparo do DNA em embriões, que usa o DNA do óvulo como modelo para reparar o DNA do embrião que originalmente veio do espermatozoide. Isto teria permitido que eles conseguissem corrigir as mutações que causariam problemas cardíacos na maior parte dos embriões com que trabalharam.
Mas outros pesquisadores, como o Dr. Anthony Perry, da Universidade de Bath (Reino Unido), afirmam não ter encontrado nenhuma evidência do alegado novo mecanismo de reparo e, mais do que isso, afirmam que esse mecanismo não faz sentido. No estágio em que o reparo ocorreria como a equipe alega, disse Perry, há uma distância considerável entre o DNA paterno e o materno.
Já a equipe do Dr. George Church, da Universidade de Harvard (EUA), afirma que o grupo de Mitalipov talvez não tenha nem mesmo corrigido a mutação da doença cardíaca.
Em uma crítica publicada nesta semana no repositório BioRxiv, Church e seus colegas afirmam que a equipe meramente mostrou que a mutação estava ausente - isso poderia ser causado pela deleção (apagamento) do DNA, em vez de ser devido ao conserto genético por meio da edição do DNA pela CRISPR.
Já a revista britânica New Scientist resumiu as alegações da equipe original e os questionamentos dos outros pesquisadores em uma reportagem intitulada "Nós realmente ainda não sabemos o que CRISPR faz aos embriões humanos."
"Há muitas perguntas sem resposta," resumiu o Dr. Anthony Perry.
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