Galectinas
Cientistas descobrem novas perspectivas para o desenvolvimento de estratégias biotecnológicas envolvendo as galectinas 4 e 8 aplicáveis ao tratamento e aos diagnósticos de gastroenterites e de outras doenças infecciosas.
Galectinas são lectinas, proteínas que têm capacidade de reconhecer carboidratos de modo específico.
O estudo foi desenvolvido por pesquisadores da USP e da Universidade de Emory, de Atlanta (Georgia), nos Estados Unidos.
Bactérias disfarçadas
De acordo com a pesquisa, as galectinas 4 e 8 participam efetivamente na defesa contra bactérias que se "disfarçam" de hemácias. Isso ocorre por que elas expressam, em suas superfícies, antígenos dos grupos sanguíneos ABO(H).
O estudo possibilita questionamentos sobre o efeito de dietas ricas em açúcar do leite e seus correspondentes químicos sobre as doenças gastrointestinais.
O trabalho foi conduzido pelos pesquisadores norte-americanos Sean Stowell e Connie Arthur, liderados pelo professor Richard Cummings, em parceria com o professor Marcelo Dias Baruffi, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, e sua orientada Lilian Cataldi Rodrigues.
Tipos sanguíneos
De acordo com o professor Baruffi, os tipos sanguíneos do sistema ABO(H) são definidos por diferenças nas moléculas de açúcar ligadas a proteínas nas células vermelhas do sangue. As moléculas que caracterizam o sistema ABO(H) podem funcionar como antígenos.
"Assim, pessoas do grupo A fazem anticorpos para o antígeno do grupo B, mas não para o seu próprio grupo, o A, e vice-versa. Já pessoas do grupo O, por não apresentarem os antígenos A ou B em suas células vermelhas, são capazes de produzir anticorpos anti-A e anti-B. Ao contrário, pessoas do grupo AB não produzem anticorpos anti-A ou anti-B", relata.
Já é conhecido da comunidade científica e da sociedade em geral que se os tipos de sangue incompatíveis são misturados entre pessoas, os anticorpos do doador podem causar a destruição das células vermelhas, aglutinação dessas células, coagulação intravascular disseminada e morte do receptor.
"Mas o sistema imunológico de uma pessoa geralmente não produz anticorpos para as moléculas de açúcar - antígenos do sistema ABO(H) - expressas em seus próprios glóbulos vermelhos".
Defesa sem anticorpos
Uma cepa de bactérias da E. coli, conhecida cientificamente como O86, expressa o antígeno do tipo B em sua superfície como as células vermelhas dos seres humanos do tipo B. "Portanto, pessoas com sangue tipo B são incapazes de produzir anticorpos anti-B contra E. coli O86. Entretanto, essa bactéria não causa diarreia grave em humanos".
Baruffi diz que neste contexto, foi formulada a principal pergunta deste trabalho: "Como a bactéria E. coli O86 não é uma causadora importante de gastroenterites em pessoas do grupo sanguíneo B já que a pessoa do grupo B não possui anticorpos anti-B para matar esta bactéria"?
Açúcar do leite
A resposta foi a seguinte: as galectinas 4 e 8 são capazes de reconhecer o antígeno B na superfície dessas bactérias e matá-las de uma forma rápida, independente do sistema complemento. Mas elas dependem da interação com o açúcar dessas moléculas.
A lactose, açúcar do leite, por exemplo, e seus correspondentes químicos, foram capazes de inibir drasticamente a atividade de indução de morte da bactéria E. coli O86 em sistemas in vitro e in vivo. Isso abre novas perspectivas de estudos sobre a hoje tão comum questão da tolerância da lactose no organismo.
Matador seletivo
Outra curiosidade apontada pelo professor Baruffi é o fato de as galectinas conseguirem identificar o antígeno B tanto em bactéria como em células vermelhas do sangue humano, mas apenas as bactérias morrem em função da interação antígeno B/Galectina.
Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Nature Medicine. E a importância da participação dos brasileiros na pesquisa foi enfatizada por um dos autores do estudo, o professor Richard Cummings, em seu artigo Galectinas da resposta imune inata matam bactérias que expressam antígeno do grupo B, publicado no site daquela Universidade.
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