Lado bom do Aedes aegypti
Com a ameaça da dengue, zika e chikungunya, poucos poderiam imaginar que houvesse alguma coisa de útil na saliva dos pernilongos Aedes aegypti.
Mas foi justamente aí que a bióloga brasileira Priscila Lara, da USP, encontrou uma pequena proteína que se mostrou muito eficiente para tratar a colite, uma doença inflamatória do intestino.
A administração terapêutica de uma versão sintética do peptídeo em camundongos doentes reduziu a leucocitose (aumento de leucócitos no sangue, que acontece quando há alguma infecção em curso no organismo), a atividade dos macrófagos (células de defesa do organismo do hospedeiro) e a expressão de citocinas (substâncias que participam da inflamação e fazem a comunicação com componentes do sistema imunológico), bem como os níveis de óxido nítrico no intestino dos animais, o que resultou em uma melhora dos sinais clínicos.
O óxido nítrico é um radical livre sintetizado por várias células do nosso organismo, especialmente macrófagos, e desempenha papel importante em doenças inflamatórias intestinais, como doença de Crohn e colite ulcerativa.
Testes clínicos
Priscila demonstrou também que o peptídeo puro tem sua expressão aumentada em 30 vezes nas glândulas salivares dos mosquitos fêmeas, em comparação com os machos, e que sua secreção na saliva do inseto induz à produção de anticorpos específicos em animais expostos à picada dos mosquitos.
Pelo fato de não haver moléculas semelhantes em outros mosquitos e pernilongos, e equipe batizou a molécula de AeMOPE- sigla de Aedes-specific MOdulatory PEptide, ou "Peptídeo Modulador Específico do Aedes".
Para que a molécula se torne uma terapia não somente para a colite, mas também para outras doenças inflamatórias e autoimunes, será necessário agora chegar a uma formulação farmacêutica viável e otimizar as rotas de administração, para então partir para os ensaios clínicos.
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