22/02/2021

Por que os medicamentos psiquiátricos não funcionam para todos os pacientes?

Redação do Diário da Saúde

Funciona para uns e não para outros

Quando se trata dos medicamentos para doenças mentais e comportamentais, tipicamente receitados pelos psiquiatras e médicos, a ciência e a medicina estão se deparando com três problemas substanciais:

  • As doenças mentais afetam homens e mulheres de forma diferente, com coisas como depressão e ansiedade muito mais comuns em mulheres.
  • Medicamentos para a mesma condição têm efeitos diferentes em homens e mulheres.
  • Um medicamento que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra do mesmo gênero - e os efeitos colaterais são abundantes.

Helen Wong e seus colegas da Universidade do Colorado em Boulder (EUA) acreditam ter finalmente encontrado uma razão para tantas diferenças individuais e de gênero.

O estudo também oferece um olhar mais atento sobre onde, precisamente, as coisas começam a "dar errado" no cérebro, um passo importante em direção a terapias mais direcionadas e com menos efeitos colaterais.

"O objetivo final é encontrar o ponto fraco na armadura da doença mental - as proteínas do cérebro que podemos visar especificamente sem impactar outros órgãos e causar efeitos colaterais," explica o professor Charles Hoeffer. "Personalização também é fundamental. Precisamos parar de atacar todas as doenças mentais com o mesmo martelo."

Proteína AKT

A grande descoberta é que uma proteína-chave no cérebro, chamada AKT, pode funcionar de forma diferente em homens e mulheres.

Depois de descoberta, na década de 1970, essa proteína ficou conhecida por seu papel potencial em causar câncer quando sofre mutação. Mas recentemente se descobriu que a AKT é um participante-chave na promoção da plasticidade sináptica, a capacidade do cérebro de fortalecer as conexões entre os neurônios em resposta à experiência.

"Digamos que você veja um tubarão e está com medo e seu cérebro quer formar uma memória. Você tem que fazer novas proteínas para codificar essa memória," explica Hoeffer.

A AKT é uma das primeiras proteínas a ser acionada, movimentando as engrenagens de uma série de outras proteínas responsáveis por registrar a memória. Sem ela, suspeitam os pesquisadores, não podemos aprender novas memórias ou extinguir as antigas para dar lugar a novas e menos prejudiciais.

Papéis diferentes em homens e mulheres

Agora os pesquisadores descobriram que nem todas as AKTs são criadas iguais: "Sabores" diferentes - ou isoformas - funcionam de maneira diferente no cérebro. Por exemplo, a AKT2, encontrada exclusivamente nas células cerebrais em forma de estrela, chamadas astroglia, costuma estar relacionada ao câncer cerebral.

Já a AKT3 parece ser importante para o crescimento e desenvolvimento do cérebro. E a AKT1, em combinação com a AKT2 no córtex pré-frontal do cérebro, parece ser crítica para o aprendizado e a memória.

Mas não vá copiando tão rapidamente todas novas essas informações do quadro: A diferença desses mecanismos entre homens e mulheres é enorme.

Por exemplo, camundongos machos cuja AKT1 estava funcionando normalmente eram muito melhores do que aqueles sem a proteína quando se tratava de "aprendizado de extinção", substituindo uma velha memória, ou associação, que não é mais útil.

Para as camundongos fêmeas, essa distinção entre funcional e não funcional não fez muita diferença.

Nuances

Muitas pesquisas adicionais serão necessárias - e algumas já estão em andamento -, mas Hoeffer suspeita que muitas outras proteínas-chave no cérebro compartilham nuances semelhantes, com variações delas servindo a propósitos diferentes ou agindo de forma diferente em homens e mulheres.

"Para ajudar mais pessoas que sofrem de doenças mentais, precisamos de muito mais conhecimento sobre a diferença entre os cérebros masculino e feminino e como eles podem ser tratados de forma diferente," disse Hoeffer. "Este estudo é um passo importante nessa direção."

Checagem com artigo científico:

Artigo: Isoform-specific roles for AKT in affective behavior, spatial memory, and extinction related to psychiatric disorders
Autores: Helen Wong, Josien Levenga, Lauren LaPlante, Bailey Keller, Andrew Cooper-Sansone, Curtis Borski, Ryan Milstead, Marissa Ehringer, Charles Hoeffer
Publicação: eLife
DOI: 10.7554/eLife.56630
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