Pouco para ser feliz
Parece razoável pressupor que as pessoas queiram maximizar vários aspectos da vida se tiverem a oportunidade - seja o prazer que sentem, sua liberdade pessoal ou mesmo o seu nível intelectual.
Mas essa é uma pressuposição incorreta, aparentemente um viés imposto pela ideologia dominante do "vencer na vida" ou "fazer sucesso".
Na verdade, as pessoas ao redor do mundo mostraram aspirar por níveis dessas e de outras características muito mais moderados do que se supunha.
"Nossa pesquisa mostra que o senso de perfeição das pessoas é surpreendentemente modesto. As pessoas queriam ter qualidades positivas, como saúde e felicidade, mas não a exclusão de outras experiências mais sombrias - elas queriam cerca de 75% de uma coisa boa," conta o psicólogo Matthew Hornsey, da Universidade de Queensland (Austrália).
Além disso, as pessoas disseram que, em média, gostariam de viver até os 90 anos de idade, o que é apenas um pouco mais do que a expectativa de vida média atual.
Mesmo quando se pediu aos participantes para imaginar que eles poderiam tomar uma pílula mágica que garantisse a eterna juventude, sua expectativa de vida ideal aumentou em apenas algumas décadas, para uma média de 120 anos. E quando foi-lhes pedido para escolher seu QI ideal, a pontuação média foi de cerca de 130 - uma pontuação que classificaria alguém como inteligente, mas não como um gênio.
Culturas holísticas
Hornsey e seus colegas analisaram dados de um total de 2.392 participantes da Austrália, Chile, China, Estados Unidos, Hong Kong, Índia, Japão, Peru e Rússia. Eles classificaram a China, Hong Kong, Índia e Japão como culturas holísticas, predominantemente influenciadas por religiões ou filosofias (como o budismo, o hinduísmo ou o taoísmo) que enfatizam uma visão de mundo mais holística. As outras cinco regiões foram classificadas como culturas não-holísticas.
Os dados revelaram que os participantes das culturas holísticas, que valorizam noções de contradição, mudança e contexto, escolhem as características ideais em níveis consistentemente mais baixos do que aqueles relatados por participantes das culturas não-holísticas.
"Curiosamente, as classificações de perfeição foram mais modestas em países que tinham tradições do budismo e do confucionismo," disse Hornsey. "Isso faz sentido - essas filosofias e religiões orientais tendem a colocar mais ênfase na noção de que forças aparentemente contraditórias coexistem em um estado complementar e inter-relacionado, de tal forma que uma não pode existir sem a outra."
Os resultados foram publicados na revista Psychological Science.
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