Inaceitável
Uma ovelha geneticamente modificada com uma proteína de água-viva, utilizada em pesquisas científicas na área de cardiologia na França, acabou sendo enviada a um abatedouro do país.
A carne do animal transgênico foi vendida para consumo, lançando novos debates sobre a segurança das pesquisas genéticas com animais.
O caso envolve o prestigioso Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica (Inra) da França, que, entre outras atividades, desenvolve programas científicos na área médica utilizando animais geneticamente modificados.
"O primeiro erro foi colocar a ovelha geneticamente modificada em um lote com animais normais, de criação. Em seguida, esses animais foram transferidos para o abatedouro. Dessa forma, a ovelha, que não deveria estar nesse rebanho, entrou na cadeia de alimentação", declarou o presidente do Inra, Benoît Malpaux.
O ministro da Agricultura, Stéphane Le Foll, disse que o incidente "é inaceitável" e pediu ao Inra para realizar, até o final do mês, um relatório sobre o problema.
Ovelha brilhante
A ovelha Rubi, que foi parar na mesa de consumidores não identificados, tinha uma proteína extraída da medusa, a GFP (sigla em inglês para Proteína Verde Fluorescente), que torna as células fluorescentes e deixa a pele translúcida.
Essa proteína é usada em experimentos científicos, dando luminosidade a outras proteínas ou genes para permitir que os cientistas acompanhem o movimento e o comportamento destes - sua descoberta foi agraciada com o Prêmio Nobel de Química de 2008.
A ovelha fazia parte de uma pesquisa para estudar o transplante de células utilizadas para restaurar a função cardíaca após um infarto do miocárdio.
Segundo um comunicado do Inra, a ovelha foi transferida em agosto passado para um abatedouro "parceiro" e vendida para um particular em outubro. A notícia só foi revelada na terça-feira.
De propósito
O jornal Le Parisien, que revelou o caso, diz que investigações preliminares sugerem que um funcionário do laboratório teria colocado propositadamente a ovelha Rubi no rebanho destinado ao abatedouro para se vingar de um chefe desafeto.
"Algumas pistas indicam uma ação envolvendo dois funcionários que agiram com o objetivo de prejudicar," disse ao jornal o advogado do Inra, Alexandre Gaudin.
Quando percebeu que a ovelha Rubi havia sumido, o chefe, por sua vez, teria preferido esconder o problema. O Inra reconhece em um comunicado que "os fatos foram dissimulados por um agente do instituto".
Apesar de afirmar em nota que o consumo da carne do animal não causa problemas de saúde, o instituto francês informou ter acionado a justiça para investigar o caso.
Falhas de segurança
Recentemente, cientistas afirmaram que não há informações suficientes para garantir a segurança dos animais transgênicos.
Os defensores dos experimentos contra-argumentam apresentando uma série de normas de segurança muito rígidas, tidas como "à prova de falhas". Contudo, essas normas não surtem efeito quando as pessoas encarregadas de executá-las se incumbem de burlá-las.
Falhas de segurança também atingiram recentemente laboratórios nos EUA, com cientistas contaminados por antraz, um vazamento da bactéria usada em pesquisas com a criação de supervírus e até a perda de frascos contendo amostras de varíola.
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