Tipos de vacinas contra covid-19
O processo de criação de uma vacina para a covid-19 pode ser diferente de outras vacinas comuns, afirma o professor Andrea Amalfitano.
Amalfitano é reitor da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Michigan (EUA) e professor de pediatria, microbiologia e genética molecular.
Nesta entrevista, ele lança algumas luzes sobre o processo de criação de uma vacina contra a covid-19, como ela deverá ser diferente de vacinas como a vacina contra a gripe e se a nova vacina vai exigir mais de uma injeção.
Como criar e testar uma nova vacina contra o coronavírus difere de outras, como a vacina contra a gripe?
Basicamente, não temos nenhum histórico de sucesso no desenvolvimento de uma vacina específica para coronavírus, muito menos uma vacina específica para covid-19. Também não estamos inteiramente certos de qual parte da partícula do vírus covid-19 deve ser alvejada. Finalmente, não está claro se apenas as respostas de anticorpos impedirão a infecção por covid-19, uma vez que outras respostas também podem ser necessárias, como respostas imunes baseadas em células T.
Por exemplo, as vacinas anuais contra a gripe funcionam gerando respostas de anticorpos. Os anticorpos "capturam" partículas de vírus flutuantes livres e as removem do corpo. Em contraste, as células T procuram e destroem as células potencialmente infectadas por um vírus como o covid-19, evitando a produção adicional do vírus a partir dessas células infectadas.
Essas variáveis, uma vez compreendidas, também podem influenciar a capacidade final de aplicar uma vacina a um grande número de pessoas. Alguém poderia ter uma ótima vacina que induza grandes respostas de anticorpos, mas se a vacina não puder ser produzida em massa com sucesso, ela é essencialmente inútil para grandes populações que precisam da vacina. Se as respostas das células T também forem necessárias a partir de uma vacina, isso irá adicionar mais restrições às vacinas candidatas que são consideradas para produção em larga escala.
É correto que uma nova vacina contra o coronavírus exigiria duas injeções (como a nova vacina contra herpes) e ambas precisariam ser do mesmo fabricante?
Isso não está claro. Muitas vacinas requerem uma vacinação de "preparação" inicial, seguida por uma ou mais vacinações de "reforço", para maximizar a geração de respostas imunes benéficas. Esse pode provavelmente ser o caso de qualquer vacina contra a covid-19.
As estratégias de preparação inicial podem ser homólogas, onde a mesma plataforma de vacina é administrada repetidamente, versus heteróloga, onde uma plataforma de vacina é seguida ou reforçada com uma segunda, mas em uma plataforma diferente. No entanto, ambas visariam o mesmo vírus, como o [SARS-COV-2, causador da] covid-19. A decisão de fazer vacinações de reforço homólogas versus heterólogas dependerá dos resultados dos ensaios clínicos que testam cada plataforma individualmente.
Quantas novas vacinas contra o coronavírus poderiam ser lançadas no mercado? Como o público saberá qual é a melhor?
Pode haver mais de uma, dependendo de como elas se saírem nos ensaios clínicos. O ensaio clínico informará a eficácia potencial. A aprovação da FDA [Anvisa, no caso do Brasil] de uma vacina contra covid-19 será baseada em uma alta probabilidade de prevenção do vírus, uma premissa que terá sido validada em ensaios clínicos que levaram à aprovação da FDA.
Podem ser desenvolvidas vacinas separadas contra o coronavírus para diferentes faixas etárias, sexos ou etnias?
Até agora, não está claro se diferentes populações exigiriam uma plataforma de vacina diferente. Eu sugeriria que a disponibilidade de uma vacina covid-19 pode exigir a aplicação aos mais vulneráveis em risco ou clinicamente vulneráveis de nossas populações primeiro, até que possa ser produzida vacina suficiente para ser disponibilizada a toda a população. A escalabilidade da vacina específica determinará a rapidez com que um grande número da população pode recebê-la.
Que informação a mídia não cobriu que você considera importante sobre a vacina covid-19?
Eu penso que o fato de que a capacidade de produzir qualquer nova vacina em massa não é um dado. Na verdade, sempre fico consternado quando pesquisadores individuais ou empresas farmacêuticas apregoam uma nova descoberta no laboratório como a próxima grande terapia, sem qualquer indicação ou prova de que a terapia é segura em grandes populações, ou mesmo que possa ser produzida com segurança para ser administrada a grandes populações .
Como clínico, muitas vezes já tive que dizer aos pacientes essas realidades quando eles se deparam com as últimas notícias sobre o próximo grande avanço médico. Muitas vezes, essa checagem de realidade pode ser devastadora para alguém afetado, por exemplo, por uma doença ou condição potencialmente fatal. Você pode imaginar no meu campo da genética clínica que vejo isso com frequência, pois muitas doenças genéticas podem ser letais.
Descobri que a falsa esperança pode ser devastadora para os indivíduos e abalar sua fé na ciência do desenvolvimento terapêutico médico. Isso para mim é uma tragédia, pois se o público perder a fé em nossa habilidade como cientistas de não "exagerar", eles podem não apoiar nossos esforços no futuro.
Ver mais notícias sobre os temas: | |||
Vacinas | Vírus | Desenvolvimento de Medicamentos | |
Ver todos os temas >> |
A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.