Bactéria do solo
Uma nova linha de pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP estuda a utilização da bactéria Bacillus subtilus, encontrada em solos e amplamente conhecida pelos cientistas na produção de vacinas. Em sua tese de doutorado no ICB, o biólogo Juliano Paccez utilizou a bactéria como agente vacinal contra a Escherchia coli enterotoxigênica (ETEC), microorganismo associado a casos de diarréia, especialmente em crianças menores de cinco anos.
A funcionalidade da vacina foi comprovada em testes com camundongos. "O primeiro passo para desenvolver uma vacina é entender o funcionamento do organismo causador da doença", conta Paccez. "Na ETEC foi isolada uma seqüência gênica que codifica uma proteína que desencadeia as infecções".
Vacina de bactéria geneticamente modificada
A seqüência foi clonada e transferida para o Bacillus subtillus, que passou a produzir a proteína. "Ao ser administrada por via oral, a bactéria é capturada por células de defesa do organismo e degradada, liberando as proteínas e gerando a resposta imune". Na pesquisa, a imunização foi conseguida após a aplicação de nove doses da vacina.
"Com base nesses resultados, o agente vacinal pode ser aperfeiçoado para gerar proteção com um menor número de doses", ressalta o biólogo. A ETEC é associada a um grande número de casos de diarréia em todo o mundo, podendo ser fatal em crianças com menos de cinco anos. Também está relacionada à "diarréia dos viajantes", infecções intestinais que acontecem em áreas de epidemias.
Bactéria benigna
O biólogo aponta que o conhecimento científico sobre o Bacillus subtilus é uma das vantagens para sua utilização em vacinas. "É um microorganismo que serve como padrão para o estudo de bactérias gram-positivas", explica. A facilidade de manipulação genética e a ausência de patogenicidade são outros aspectos favoráveis. "Em geral, a bactéria é encontrada em solos, mas não possui nenhum histórico de doenças relacionadas a ela em seres humanos".
Vacina oral
A administração oral da vacina reduz as dificuldades de aplicação e ajuda a potencializar seus efeitos. "A ETEC entra no organismo por via de mucosa, pela boca, e chega até o intestino, onde provoca a infecção", conta Paccez. "A aplicação oral faz com que a bactéria imite o ciclo do patógeno". O uso da vacina em seres humanos dependerá de novas pesquisas, que poderão levar cerca de 20 anos.
O estudo com o Bacillus subtilus foi realizado no Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Centro de Vacinoterapia Gênica do ICB, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). As pesquisas envolvendo a bactéria começaram há quatro anos, e são realizadas por uma equipe de sete pesquisadores. "É um novo campo de estudos", aponta o biólogo. "Em todo o mundo, existem apenas três grupos de cientistas que testam o Bacillus subtilus como agente vacinal".
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