Eleição cerebral
Muito antes que você aperte o número do seu candidato na urna eletrônica, os circuitos do seu cérebro já realizaram uma eleição própria, uma eleição prévia que tornou possível seu ato de escolher um candidato e votar.
Mas isto não vale apenas para eleições: na verdade, cada tomada de decisão é uma eleição, onde as alternativas possíveis são os candidatos.
Uma nova pesquisa realizada na Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos, revelou que nosso cérebro, quando confrontado com a necessidade de uma decisão, acumula evidências e dispara a ação necessária quando essas evidências atingem um ponto crítico, chamado ponto de inflexão.
Limiar da decisão
"Modelos psicológicos de tomada de decisão explicam que os seres humanos gradualmente acumulam evidências para uma escolha em particular ao longo do tempo, e executam essa escolha quando as evidências atingem um nível crítico. Entretanto, até recentemente havia pouca compreensão de como isso é realmente implementado no cérebro," explica Braden Purcell, principal autor do estudo.
"Descobrimos que certos neurônios parecem representar o acúmulo de evidências até um limiar, e outros representam a própria evidência, e que esses dois tipos de neurônios interagem para coordenar a tomada de decisão," diz Purcell.
A pesquisa foi publicada na edição de outubro da revista científica Psychological Review.
Informação e ação
Nos experimentos, os pesquisadores deram a macacos uma tarefa visual simples, na qual eles deviam encontrar um alvo em uma tela, que incluía também itens de distração.
Os pesquisadores descobriram que os neurônios que processam as informações visuais capturadas da tela alimentam os neurônios responsáveis pelo movimento com essas informações.
Esses neurônios do movimento servem como porteiros, suprimindo a ação até que as informações que eles recebem dos neurônios visuais sejam suficientemente claras.
Quando isso ocorre, os neurônios responsáveis pelo movimento desencadeiam o movimento escolhido.
Os pesquisadores também descobriram que os neurônios responsáveis pelo movimento servem como mediadores em uma competição entre o que estava sendo visto - neste caso, os itens-alvo e os itens de distração - garantindo que foi tomada a decisão para olhar para o item correto.
Transtornos psicológicos
"O que o cérebro parece fazer é, para cada voto que ele recebe para um candidato [uma ação possível], ele suprime um voto para o outro candidato [a outra ação], exagerando as diferenças entre os dois," disse Jeffrey Schall, coautor do estudo.
"O sistema que produz a resposta não ouve o resultado da votação até que esteja claro que a eleição está pendendo para um determinado candidato. Nesse ponto, o circuito que gera o movimento é acionado e o movimento ocorre," disse ele.
As descobertas oferecem insights para o tratamento de alguns distúrbios psicológicos.
"Dificuldades na tomada de decisão estão no cerne de uma série de problemas psicológicos e neurológicos. Por exemplo, trabalhos anteriores sugerem que pacientes com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade podem sofrer déficits no controle da acumulação de evidências," diz Purcell. "Este trabalho pode nos ajudar a entender por que esses déficits ocorrem em um nível neurobiológico."
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