Óleo essencial protegido
A maneira tradicional de produzir cosméticos pode estar com os dias contados.
É o que estão propondo os pesquisadores Amanda Luizetto dos Santos e Valtencir Zucolotto, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP).
Eles criaram uma nanopartícula feita de mistura de plástico (polímero) e materiais orgânicos (lipídios).
A nanopartícula, menor do que o diâmetro de um fio de cabelo, protege o material ativo - o chamado óleo essencial - e mantém suas propriedades intactas, diminuindo assim os riscos de degradação e perda de eficiência causados pela exposição ao Sol ou ao calor.
Extração 100% natural
Através da técnica de "hidrodestilação", Amanda utilizou apenas de água para extrair o óleo de diversas plantas, como cravo, pimenta-rosa, gengibre, manjericão etc.
Esse processo de extração 100% natural diminui ou elimina as reações alérgicas ou a contaminação da pele. "Quisemos estudar óleos de diversas plantas, pois cada um deles possui propriedades biológicas diferentes", explica a pesquisadora.
Ainda de acordo com Amanda, a extração natural do óleo é demorada, o que torna seu custo elevado. No entanto, um grupo cada vez maior de usuários tem dado preferência aos produtos naturais, criando um mercado em ascensão e de futuro promissor.
Além disso, o sistema de nanoencapsulamento dispensa o uso de conservantes no cosmético, já que os óleos essenciais têm propriedade antimicrobiana, diminuindo o custo da formulação.
Proteção da proteção
A maior preocupação dos pesquisadores, contudo, estava em resguardar o produto natural, para que ele possa ter sua ação prolongada sobre a pele.
Amanda fez então comparações entre o óleo nanoencapsulado - protegido pelas nanopartículas - e o óleo livre - sem qualquer revestimento que o conserve.
Os resultados foram entusiasmantes: o óleo na sua forma livre não é incorporado nas formulações cosméticas. Quando nanoencapsulado, porém, ele atinge concentrações elevadas, de aproximadamente 30%.
O grupo já conseguiu dar estabilidade às nanopartículas, ou seja, elas protegem o óleo puro, evitando sua evaporação, degradação e oxidação.
"Através desse sistema, os óleos duram mais tempo, além de oferecerem uma atividade melhor e mais eficiente, inclusive numa concentração menor do que o tradicional", explica Amanda.
Os pesquisadores já criaram uma empresa para começar a comercializar sua invenção.
Óleos medicinais
Amanda não descarta a possibilidade de, no futuro, tirar proveito das propriedades biológicas dos óleos para uso farmacêutico.
Propriedades anestésicas e antifúngicas do cravo já são utilizadas há muito tempo na medicina.
Pesquisas recentes apontam que a pimenta-rosa incita a produção de dopamina no organismo, com potenciais efeitos terapêuticos.
"Já realizamos alguns testes farmacêuticos em animais e chegamos a resultados promissores," conclui a pesquisadora.
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