Crença religiosa e crença científica
Ao contrário do que os cientistas têm pressuposto há muito tempo, parece que nossas crenças nas coisas da ciência e nas coisas da religião baseiam-se no mesmo fundamento: Aquilo que aprendemos ou ouvimos dos outros.
O pressuposto científico básico é que as pessoas acreditam no que a ciência diz porque os "fatos científicos" seriam corroborados por nossa experiência direta. Por exemplo, você acredita na gravidade, na inércia ou na fotossíntese porque consegue detectar seus efeitos, mesmo que não consiga ver nenhuma dessas coisas. Você não precisa confiar no seu professor para acreditar nelas.
Em comparação, é muito menos certo ou demonstrável se você consegue experimentar fenômenos religiosos, como Deus, milagres etc. Neste caso, você se basearia no testemunho de "autoridades", sejam seus pais, padres, pastores etc.
Mas não foi isso o que descobriu uma equipe internacional de pesquisadores, cujos experimentos mostraram que as crenças das pessoas na ciência e na religião são moldadas principalmente pelas palavras dos outros, e não pelas suas experiências pessoais.
O estudo destaca o papel decisivo do testemunho na formação das nossas crenças e na nossa compreensão do mundo, contrariando a noção de que a experiência direta seria o principal motor da crença científica.
"Mesmo quando parece que estamos vivenciando algo diretamente, nossa compreensão é muitas vezes fortemente influenciada pelo que nos disseram os especialistas ou a nossa comunidade. Por exemplo, ao testemunhar um parente adoecendo, é muito difícil para uma criança detectar que um vírus está causando a doença; em vez disso, ela recorre ao testemunho de outras pessoas, como o ensino dos pais, para compreender as relações causais," disse a professora Shaocong Ma, da Universidade de Hong Kong.
Acreditamos no que aprendemos
Ao revisar as evidências empíricas de inúmeros experimentos e teorias publicados nas últimas décadas, a equipe está propondo um novo modelo que explica como as pessoas passam a acreditar na existência de entidades invisíveis, sejam os germes ou o oxigênio na ciência, ou Deus na religião.
Ao contrário dos modelos anteriores, que propunham caminhos separados para a formação das crenças na ciência e na religião, o novo modelo fornece uma explicação unificada, argumentando que o testemunho de outras pessoas - em vez da experiência direta - molda predominantemente as crenças em ambos os domínios.
Por exemplo, eles constataram que as pessoas acreditam em germes porque os médicos e os cientistas dizem que eles existem, apesar de não podermos vê-los com os nossos próprios olhos. Da mesma forma, inferimos que as pessoas ficam doentes por causa de germes ao aprendermos esta relação causal com outras pessoas, em vez de descobrirmos esta ligação através da observação pessoal.
O modelo também estabelece que, quanto mais digna de crédito for a fonte da informação, e quanto mais pessoas concordarem com ela, maior será a probabilidade de as pessoas acreditarem nela. "Se muitas pessoas à nossa volta concordam que as mudanças climáticas são reais, o seu consenso fortalece a nossa crença nestes conceitos," exemplificou Ma.
"Reconhecer isto pode ajudar a determinar a forma mais eficaz de comunicar informação científica ao público. Ao realçar a credibilidade e o consenso das evidências científicas, é possível promover uma maior aceitação e confiança nos fatos científicos, especialmente no que diz respeito a temas científicos emergentes, como as mudanças no clima," concluiu a pesquisadora.
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