Informação não faz mal
As mulheres chamadas para fazer exames preventivos do câncer de mama no Reino Unido receberão mais informações sobre os danos potenciais das mamografias, ou mamogramas.
A medida está sendo tomada depois que um painel independente de especialistas foi criado para resolver um debate feroz sobre se a mamografia preventiva faz mais mal do que bem.
A revisão das evidências científicas mostrou que, para cada vida salva, três mulheres receberam tratamento para um câncer que nunca teria sido fatal.
O mesmo já havia sido feito nos EUA, onde um painel igualmente concluiu pelos elevados riscos dos sobrediagnósticos e tratamentos desnecessários:
Riscos das mamografias
Os especialistas afirmam que há duas classes principais de riscos nas mamografias preventivas: os falsos positivos, devido às imprecisões próprias do exame, e a dose cumulativa de radiação que as mulheres recebem fazendo os exames durante anos a fio.
Recentemente, pesquisadores começaram a desenvolver um novo tipo de mamografia que usa 25 vezes menos radiação do que o atual.
As informações sobre os riscos das mamografias serão incluídas nos folhetos distribuídos às mulheres, para que elas possam fazer uma "escolha bem informada", segundo o governo britânico.
Instituições sem fins lucrativos que cuidam do câncer, assim como inúmeros médicos, defendem que as mulheres devem fazer os exames preventivos.
Recomendações
Os exames preventivos - que os especialistas chamam de triagem ou rastreamento - têm sido a regra para diagnosticar o câncer de mama há mais de duas décadas.
No Reino Unido, mulheres com idade entre 50 e 70 são convidadas a fazer uma mamografia a cada três anos.
No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer recomenda que as mulheres entre 50 e 69 anos façam a mamografia preventiva a cada dois anos, mas, em desacordo com as normas oficiais, é comum ver profissionais na mídia defendendo exames anuais para mulheres acima dos 40 anos.
Controvérsia
De volta ao Reino Unido, o diretor do Instituto Nacional do Câncer, Dr. Mike Richards, disse que o assunto se tornou "uma área de extrema controvérsia".
O debate centra-se em torno do conceito de "sobrediagnóstico", que é o exame que identifica corretamente um tumor, mas que nunca teria causado danos à saúde da mulher.
Isso leva a que mulheres que viveriam uma vida plena e saudável recebam tratamentos - como cirurgia, terapias hormonais, radioterapia e quimioterapia - que têm consideráveis efeitos colaterais. Sem contar os efeitos emocionais de receber um diagnóstico de câncer.
Não existem ainda maneiras de saber quais tumores poderão levar à morte e quais poderiam ser deixados de lado.
Sobrediagnósticos
A revisão, publicada na revista médica The Lancet, mostrou que o rastreamento salva 1.307 vidas a cada ano no Reino Unido, mas leva a que 3.971 mulheres tenham diagnósticos e tratamentos desnecessários.
Do ponto de vista de uma mulher individual, ela tem uma probabilidade de 1% de ser sobrediagnosticada se fizer o exame preventivo.
O painel de avaliação independente foi coordenador pelo Dr. Michael Marmot, da Universidade College London.
Ele disse que a triagem tem "contribuído para a redução das mortes", mas também "resultou em alguns sobrediagnósticos".
E acrescentou ser "vital" as mulheres sejam informadas sobre os malefícios e benefícios potenciais antes de se submeterem à mamografia preventiva.
Informação clara e imparcial
O Dr. Richards, por sua vez, concluiu: "Minha opinião é que o programa de rastreio deve acontecer, devemos convidar as mulheres a fazerem os exames preventivos e dar-lhes as informações [necessárias] para que elas façam sua própria escolha."
Ele afirmou que os folhetos sobre a prevenção do câncer de mama enviados para as mulheres serão atualizados nos "próximos meses" para "apresentar os fatos de uma forma clara e imparcial".
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