Protegendo o mosquito
A equipe do professor Scott O'Neill, da Universidade de Monash, na Austrália, acaba de realizar um experimento inédito e controverso.
Os cientistas descobriram que a bactéria Wolbachia pipientis - que, ao que se sabe, ataca apenas insetos - consegue reduzir a capacidade do mosquito Aedes aegypti de transmitir a dengue.
Ou seja, em vez de trabalhar em uma vacina para proteger os humanos da dengue, a equipe australiana tornou o próprio pernilongo "imune" à dengue - os cientistas falam em "redução da suscetibilidade do mosquito à dengue".
Desta forma, o Aedes aegypti pára de transmitir a dengue para os humanos.
Desconhecimentos
Como a cepa wMel da bactéria Wolbachia impede o vírus de se replicar no mosquito é algo "ainda não totalmente compreendido", segundo o Dr. O'Neill.
Ele especula que há indícios sugerindo que a bactéria "compete por recursos sub-celulares limitados exigidos pela replicação do vírus".
É este nível de desconhecimento que levanta suspeitas de alguns cientistas, que afirmam ser muito difícil avaliar os efeitos amplos da inserção de um novo organismo em um ambiente no qual ele não existe naturalmente.
Mas os resultados iniciais, exclusivamente sobre a capacidade dos mosquitos transmitirem a dengue, parecem muito promissores.
Bactéria contra a dengue
"A pesquisa publicada hoje descreve a implantação bem-sucedida de uma cepa de Wolbachia particularmente promissora dentro do mosquito da dengue em laboratório, sua subsequente capacidade para reduzir o potencial de transmissão do mosquito da dengue, e também a introdução bem-sucedida dessa mesma cepa de Wolbachia em populações de mosquitos selvagens na Austrália," disse O'Neill, referindo aos dois artigos relatando a pesquisa, publicados pela revista Nature.
No experimento, os cientistas liberaram 300 mil mosquitos adultos, infectados com a bactéria em laboratório, em duas áreas suburbanas da região de Cairns, na Austrália, ao longo de um período de dez semanas.
Cerca de três meses depois, a maior parte da população de Aedes aegypti da região - capturados pelos cientistas - já estava infectada com a bactéria, tendo-se tornado, portanto, incapaz de transmitir a dengue.
"O teste de campo envolveu a liberação dos pernilongos com Wolbachia a cada semana, durante 10 semanas. Cinco semanas após a soltura final foi determinado que 100 por cento dos mosquitos em um local carregavam a Wolbachia e 90 por cento na outra. Foi um grande dia," comemorou o professor O'Neill.
Longevidade do mosquito
O pesquisador afirma que pretende agora fazer os mesmos testes na Tailândia, no Vietnã e no Brasil.
O grupo tem como colaborador no Brasil o Dr. Luciano Moreira, do Centro de Pesquisas René Rachou, da Fiocruz, em Belo Horizonte.
Moreira participou dos estudos iniciais que levaram a este novo teste, quando os cientistas descobriram que uma outra cepa da Wolbachia reduzia o tempo de vida do Aedes aegypti.
Agora, contudo, o grupo australiano afirma que a redução no tempo de vida diminui a chance de transmissão da bactéria entre os pernilongos, o que os levou a escolher uma cepa que não apresenta redução da longevidade.
Alterações genéticas sobre o mosquito
Devido à ineficiência do combate à dengue com inseticidas e com a conscientização da população, vários grupos ao redor do mundo, inclusive no Brasil, trabalham com alternativas de ação genética sobre o mosquito Aedes aegypti.
Um grupo da USP está desenvolvendo uma técnica para a produção de mosquitos geneticamente modificados que, ao serem liberados na natureza, podem contribuir para o controle dos pernilongos domésticos:
Um grupo internacional, liderado por um brasileiro, desenvolveu uma técnica genética diferente, que atua na reprodução do mosquito Aedes aegypti:
A abordagem de uma outra equipe, dos Estados Unidos e do Reino Unido, foi fazer modificações genéticas para que as fêmeas do mosquito não desenvolvam asas:
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