26/06/2018

Milhões podem estar recebendo receitas incorretas para prevenção cardiovascular

Redação do Diário da Saúde
Milhões podem estar recebendo receitas incorretas para prevenção cardiovascular
O Dr. Sanjay Basu afirma que, ao usar equações desatualizadas, os médicos podem estar tratando pessoas que não precisam e deixando pacientes em risco sem as medidas preventivas adequadas.
[Imagem: Steve Fisch]

Equações de coorte combinadas

Milhões de pacientes podem estar recebendo receitas incorretas de aspirina, estatinas e medicamentos para pressão arterial, alertam médicos da Universidade de Stanford (EUA).

Suas conclusões são baseadas na avaliação de um conjunto de cálculos que são usados para determinar o risco de uma pessoa em sofrer um ataque cardíaco ou um acidente vascular cerebral.

Esses cálculos são feitos com base nas chamadas equações de coorte combinadas (ECCs) - em inglês PCEs: pooled cohort equations.

As ECCs são a base das diretrizes de prevenção de doenças cardiovasculares nos Estados Unidos e amplamente utilizadas no resto do mundo. Elas ajudam os médicos a estimarem o risco que um paciente pode ter para um ataque cardíaco ou derrame e, com base nessas estimativas, a decidir se prescrevem aspirina, medicamentos para a pressão arterial ou estatinas, ou alguma combinação destes medicamentos.

A maioria dos médicos calcula o risco de um paciente usando uma calculadora disponível pela internet ou um aplicativo de celular. As equações também são incorporadas em muitos registros eletrônicos de saúde, de modo que o risco de um paciente é calculado automaticamente durante uma visita ao consultório.

Dados desatualizados

Apesar desse uso disseminado, tem havido um grande debate na comunidade médica e científica se as ECCs (equações de coorte combinadas) não estariam baseadas em dados desatualizados e, portanto, colocando alguns pacientes em risco de receberem medicação excessiva ou insuficiente.

"Nós descobrimos que provavelmente existem pelo menos duas maneiras principais para melhorar as equações. A primeira é bem conhecida: que os dados usados para derivar as equações poderiam ser atualizados," disse o Dr. Sanjay Basu, coordenador dessa reavaliação.

Confiar nos dados dos nossos avós para fazer nossas escolhas de tratamento provavelmente não é a melhor ideia.Sanjay Basu

Por exemplo, cita o pesquisador, um dos principais conjuntos de dados usados para derivar as equações originais tem informações de pessoas entre 30 a 62 anos em 1948, pessoas que, portanto, teriam de 100 a 132 anos em 2018 - ou seja, poucas delas, se alguma, ainda estão vivas. E as equações mais antigas costumavam estimar o risco das pessoas como muito alto, possivelmente com uma média de 20% entre os grupos de risco. Além disso, os pesquisadores descobriram que os dados antigos não tinham uma amostra suficiente de afrodescendentes.

"Muita coisa mudou em termos de dietas, ambientes e tratamento médico desde a década de 1940," ressalta Basu. "Então, confiar nos dados dos nossos avós para fazer nossas escolhas de tratamento provavelmente não é a melhor ideia."

Métodos estatísticos

Além da atualização dos dados, os pesquisadores apontam uma segunda melhoria que deve ser feita nas ECCs: atualizar os métodos estatísticos usados para derivar as equações partindo dos dados brutos.

"Nós descobrimos que, revisando as ECCs com novos dados e métodos estatísticos, nós poderíamos melhorar substancialmente a precisão das estimativas de risco das doenças cardiovasculares," escreveram os autores.

A análise foi publicada na revista médica Annals of Internal Medicine.

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