Geração de óxido nítrico
Um grupo de pesquisadores brasileiros descreveu uma nova via de ativação de uma enzima responsável pela geração do óxido nítrico - molécula envolvida no controle de microrganismos intracelulares.
Publicado na revista Journal of Biological Chemistry, o artigo descreve uma nova via de ativação da enzima Óxido Nítrico Sintase Induzida (iNOS, na sigla em inglês), ativada a partir do reconhecimento da flagelina - proteína que compõe o flagelo de bactérias móveis - pelos receptores da imunidade inata conhecidos como inflamassomas.
Os pesquisadores mostraram que essa nova via está envolvida com o controle de bactérias flageladas, atribuindo aos inflamassomas um mecanismo efetor até então desconhecido.
A descoberta revela um alvo para o desenvolvimento de novos medicamentos e vacinas que tenham esse tipo de microrganismo como agente causador, principalmente em processos inflamatórios.
O estudo foi feito por cientistas do Departamento de Ciências Biológicas, Campus Diadema e do Centro de Terapia Celular e Molecular (CTC-Mol) - ambos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) - e dos Departamentos de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas e de Biologia Celular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, ambos da Universidade de São Paulo (USP).
Processos inflamatórios
"Os inflamassomas são receptores citosólicos descobertos recentemente e que são de grande interesse na comunidade científica, por terem relação com a ativação de processos inflamatórios. Ainda há muitas lacunas no conhecimento sobre esses receptores e, em nosso trabalho, conseguimos acrescentar a descrição de um importante mecanismo efetor por eles conduzido", disse Karina Bortoluci, da Unifesp, autora principal do artigo.
O início do trabalho consistiu em uma tentativa de comparar o reconhecimento inato da flagelina pelos receptores do tipo Toll - uma família de proteínas transmembrânicas que fazem parte do sistema imunológico inato e são responsáveis por reconhecer várias estruturas-padrão de patógenos, incluindo a flagelina - com os receptores citosólicos do tipo inflamassomas, também capazes de reconhecer a flagelina.
"Queríamos saber se a resposta era diferente quando esses receptores distintos reconheciam a flagelina. Quando fomos avaliar a ação da enzima iNOS, esperávamos que ela só fosse ativada pela flagelina por fora da célula, através dos conhecidos receptores do tipo Toll. Mas vimos que a flagelina por dentro da célula também conseguia ativar a enzima", explicou Karina.
Intervenções terapêuticas e vacinas
Até então, segundo ela, não havia nenhuma referência na literatura à ativação da enzima iNOS por esses inflamassomas.
"Fomos, então, estudar como esses receptores estavam ativando a enzima iNOS. Vimos que se tratava de dois membros pertencentes à família dos receptores citosólicos do tipo NOD: Ipaf e Naip5. Usamos camundongos deficientes para esses receptores e vimos que neles não havia ativação da enzima iNOS", disse.
O estudo conseguiu demonstrar que a enzima iNOS é ativada por uma via dependente da protease caspase-1, ativada por Naip5 e Ipaf.
"O mais importante é que nunca havia sido demonstrado que esses receptores eram capazes de ativar a enzima iNOS. Isso nos permite acrescentar mais um mecanismo efetor desempenhado pelos receptores Ipaf e Naip5. O artigo mostra que essa nova via participa do controle de bactérias flageladas, abrindo perspectivas para a utilização dos inflamassomas como alvo em intervenções terapêuticas e adjuvantes vacinais", afirmou.
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