Malária fora da Amazônia
Entre os anos de 2007 e 2014 foram registrados 6.092 casos de malária no Brasil fora da região amazônica - a única considerada endêmica (região "nativa") da doença no país.
E apenas 19% de todos os casos fora da Amazônia são diagnosticados e tratados em até 48 horas após o início dos sintomas - enquanto na região amazônica esse índice salta para 60%.
"Isso pode explicar a alta proporção de casos severos de malária e a maior taxa de mortalidade em regiões não endêmicas", escrevem pesquisadores brasileiros em um artigo descrevendo as ocorrências no Malaria Journal.
Todos os dados estão disponíveis no Ministério da Saúde, por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), que incluem informações como sexo e idade do paciente, local em que foi registrada a notificação e também os locais em que o paciente esteve no suposto período da contaminação.
Confundindo doenças
"Esse estudo mostra que, embora a maioria dos casos de malária ocorra na região da Amazônia legal, a região extra-amazônica também merece atenção dos profissionais de saúde, pois abriga 87% da população brasileira e também as condições para a transmissão da doença: há presença do vetor (mosquitos do gênero Anopheles), do agente etiológico (parasitas do gênero Plasmodium) e do hospedeiro (humanos)", comentou Flávia Virginio, uma das autoras do artigo.
Também parece haver problemas no preparo das equipes de saúde fora da região amazônica, com os sintomas clínicos da malária não sendo suficientes para estabelecer um diagnóstico, sendo confundidos com dengue ou outras doenças virais. Há, portanto, necessidade de se realizar exames parasitológicos para confirmar. "Confundir doenças é perigoso, pois os tratamentos são muito diferentes", comentou Flávia.
Desde 2011, pesquisadores da Fiocruz já vêm alertando que os médicos confundem a malária com outras doenças.
"É necessária maior atenção tanto do ponto de vista da assistência, ou seja, ter médicos aptos a diagnosticar e tratar a doença, como do ponto de vista da vigilância epidemiológica. Os olhares estão todos voltados para a Amazônia, onde se concentram 99% dos casos, mas, se a vigilância for esquecida no restante do país, o problema pode voltar em locais onde já foi superado", acrescentou a pesquisadora.
Transmissão da malária para outros mosquitos
A demora para diagnosticar e tratar a doença cria condições para que o mosquito se contamine com o parasita ao picar o paciente infectado e transmita para outros habitantes locais. Especialistas estimam que um único doente sem tratamento pode, em uma semana, dar origem a até 50 novos casos, dependendo da região.
"É importante salientar que a região extra-amazônica abriga várias espécies de mosquitos com potencial para transmitir malária. Com as mudanças na paisagem e no clima do país é possível que espécies antes inofensivas passem a transmitir o Plasmodium, e isso é uma questão de saúde pública que precisa ser investigada", alertou Lorenz.
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