Um grupo de pesquisadores da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que é possível melhorar o estado de saúde de pacientes com condições crônicas.
Para isso, eles desenvolveram um modelo de intervenção educativa que alia orientação por meio de material didático, atendimentos presenciais e acompanhamento por telefone.
"Com o envelhecimento populacional, o número de pessoas com condições crônicas - decorrentes de doenças ou traumas físicos que requerem cuidados permanentes por longos períodos - tende a aumentar. Por esse motivo, o seguimento adequado dessas pessoas tem sido uma preocupação crescente na área de enfermagem em todo o mundo", conta a professora Lídia Aparecida Rossi.
Condições crônicas
Diversas enfermidades podem ser classificadas como condições crônicas, entre elas Parkinson, Alzheimer, diabetes e doenças cardiovasculares.
"Estudos do nosso grupo mostraram que condições crônicas distintas apresentam respostas bastante semelhantes, como medo, ansiedade, depressão, diminuição da autoestima, perda de autonomia, problemas de adesão ao tratamento e prejuízo da qualidade de vida", contou Lídia.
Os pesquisadores adaptaram e validaram para a cultura brasileira várias escalas - originalmente propostas para serem usadas em outros países - que permitem avaliar aspectos subjetivos das pessoas com condições crônicas, como ansiedade relacionada à dor, imagem corporal e qualidade de vida.
"Atualmente, esses instrumentos estão sendo usados em nossos estudos e por outros pesquisadores para mensurar os resultados de intervenções que visam a aumentar a adesão ao tratamento e a autoeficácia dos pacientes, que, nesse caso, representa a capacidade de desempenhar ações para melhorar a própria saúde", explicou Lídia.
Motivação
O modelo de intervenção educativa adotado inclui estímulos frequentes para o autocuidado feitos por telefone e por meio de consultas presenciais de enfermagem, nas quais são distribuídos materiais didáticos com explicações simples sobre a doença ou condição e sobre os cuidados a serem realizados pelo paciente e por sua família.
O impacto da iniciativa está sendo avaliado em diversas teses em andamento.
Flávia Martinelli Pelegrino, por exemplo, acompanha portadores de cardiopatia submetidos à terapia anticoagulação oral.
Em comparação ao grupo controle, que recebeu o cuidado padrão da instituição de saúde, o grupo intervenção apresentou maior satisfação com o tratamento, melhor qualidade de vida e diminuição dos sintomas de depressão e ansiedade.
Laura Bacelar de Araújo Lourenço estudou o efeito da intervenção educativa em um grupo de pacientes com doença arterial coronariana. Os resultados indicam um aumento significativo - de 32% para 72% - na adesão ao tratamento entre aqueles que receberam o estímulo para o autocuidado.
Em outro projeto orientado, a estratégia foi testada em pacientes submetidos à angioplastia para colocação de stent (mola de aço usada para desobstruir a artéria e permitir o fluxo sanguíneo). No grupo que recebeu a intervenção, houve redução significativa dos sintomas de ansiedade em comparação ao grupo controle na avaliação feita seis meses após o procedimento. A pesquisa ainda está em andamento e os pacientes continuam sendo acompanhados.
"Os dados relacionados à intervenção realizada com pacientes queimados ainda estão sendo analisados. Nesse caso, além das escalas, utilizamos instrumentos para avaliar a elasticidade e a viscosidade da pele, o que permite mensurar indiretamente a adesão ao tratamento", disse Lídia.
De acordo com a pesquisadora, a próxima meta do grupo é identificar quais aspectos do modelo de intervenção mais contribuem para a melhora do estado de saúde das pessoas com condição crônica e apresentam melhor custo-benefício para o sistema de saúde.
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