Políticas pragmáticas
A redução na pobreza especialmente em países emergentes, como o Brasil, tem tido um importante impacto na melhora dos indicativos de desenvolvimento humano mundial, embora o Brasil ainda fique atrás de muitos de seus vizinhos, informa o relatório sobre IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) divulgado pela ONU.
No relatório, intitulado The Rise of the South ("A Ascensão do Sul", em tradução livre), a ONU diz que, "na última década, todos os países (do mundo) aceleraram seus avanços em educação, saúde e renda medidos no IDH - de forma que nenhum país com dados disponíveis teve um IDH menor em 2012 em comparação com 2000".
O Brasil, com IDH de 0,730 - quanto mais perto de 1, melhores os indicadores; quanto mais perto de 0, piores eles são -, é citado como um dos países em que "políticas pragmáticas", como distribuição de renda, investimento na educação e avanços econômicos, ajudaram a reduzir a (ainda alta) desigualdade social e a aumentar seu papel no comércio global.
Com sua nota pouco superior aos 0,728 medidos no relatório anterior de IDH, o Brasil está em 85º lugar no ranking de 186 países, com indicadores sociais piores que diversos de seus vizinhos, como Argentina, Uruguai, Venezuela e Peru, e outros países latino-americanos, como Costa Rica, México, e Cuba.
No relatório anterior, o Brasil ficara em 84º lugar, mas o Programa de Desenvolvimento da ONU (Pnud), que divulga o índice, recomenda que não sejam feitas comparações entre os relatórios, por mudanças na metodologia. Tanto que a nota do ano anterior foi revisada de 0,718 para 0,728.
No relatório deste ano, o Brasil é elogiado pela ONU por suas reformas para controlar a inflação, por investimentos estatais em educação e por programas como o Bolsa Família.
Desigualdade
O IDH mede avanços sociais em expectativa de vida, educação, saúde, renda e os recursos necessários para uma vida digna.
As melhores notas são de Noruega (0,955), Austrália (0,938) e Estados Unidos (0,937).
As piores notas são de Níger e República Democrática do Congo (0,304), Moçambique (0,327) e Chade (0,340), onde a expectativa de vida não passa dos 55 anos.
Apesar da melhoria global, os avanços não foram capazes de eliminar uma grande desigualdade social na maioria dos países.
No caso do Brasil, a diferença entre ricos e pobres "abocanha" quase um terço da nota de IDH do país. O mesmo vale para China, Índia ou Venezuela.
Segundo a ONU, é improvável que os avanços em desenvolvimento humano continuem caso a desigualdade - seja em gênero, em renda ou em educação - persista.
O alerta vale também para a degradação ambiental, cujos efeitos ameaçam o progresso social, e para as mudanças demográficas.
A conclusão do relatório é de que, para aproveitar o momento de avanços sociais, os países precisam investir em igualdade, participação social cidadã, cuidados ambientais e em estratégias para enfrentar as mudanças demográficas.
Ascensão do sul
O tema principal do relatório é a "ascensão do sul", incluindo o crescimento econômico de países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China).
"Pela primeira vez em 150 anos, a produção combinada de três economias emergentes líderes - Brasil, China e Índia - é quase igual ao PIB combinado de potências industriais do norte, como Canadá, França, Alemanha, Itália, Reino Unido e EUA", aponta o texto.
"Isso representa um rebalanceamento dramático no poder econômico global."
Esses países também apresentaram avanços sociais, junto a outras nações em desenvolvimento - a ONU cita especialmente Indonésia, África do Sul e Turquia, além de "progressos substanciais" em Bangladesh, Chile, Gana, Ruanda e Chile.
Uma advertência importante, porém, é a de que o crescimento econômico não é suficiente.
"O crescimento por si só não se traduz em progresso no desenvolvimento humano", ressalta o texto. "Políticas pró-pobres e investimentos nas pessoas - por meio de educação, nutrição, saúde e habilidades técnicas - pode expandir o acesso a trabalhos dignos e prover um progresso sustentável."
Para a ONU, esse eixo sul "ainda enfrenta desafios formidáveis e abriga muitos dos pobres do mundo. Mas mostra que políticas pragmáticas e um forte foco no desenvolvimento humano pode abrir oportunidades latentes na economia, ajudados pela globalização".
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