Gavagem
Desafiando décadas de prática científica e médica na avaliação do risco que substâncias químicas representam para os seres humanos, um novo estudo mostrou as falhas do método mais usado nos animais de laboratório para testar a toxicidade química.
Depois de revisar mais de 60 estudos sobre o tema, os especialistas concluíram que a técnica de sonda oral - também conhecida como gavagem - não replica a forma como os seres humanos são expostos aos produtos químicos na vida cotidiana.
A gavagem refere-se ao modo como os médicos e cientistas dão produtos químicos para os animais, colocando um tubo goela abaixo para depositar as substâncias diretamente no estômago.
Ela tem sido usada há décadas por toxicologistas, e é atualmente o método de dosagem mais empregado por agências reguladoras nacionais para medir a toxicidade potencial de compostos químicos, como os desreguladores endócrinos - o Bisfenol-A (BPA) é o exemplo mais discutido atualmente.
"Concluímos que a sonda esofágica pode ser preferível a outras rotas para algumas substâncias químicas ambientais em algumas circunstâncias, mas ela não modela adequadamente exposições alimentares humanas para muitos produtos químicos. Como ela contorna vias de exposição, é estressante e, portanto, interfere com respostas endócrinas, a gavagem deve ser abandonada como a rota padrão de administração para avaliações de risco dos disruptores endócrinos," afirmou Laura Vandenberg, líder do estudo.
Laura, que trabalha na Universidade de Massachusetts (EUA), fez o estudo juntamente com colegas da Universidade de Missouri-Columbia (EUA) e da Universidade de Toulouse (França).
Desvantagens da sonda gástrica
Segundo os pesquisadores, a principal desvantagem da sonda gástrica é que a técnica ignora a boca, o que significa que os animais experimentam "diferenças dramáticas na absorção, biodisponibilidade e metabolismo" em relação ao que os seres humanos experimentam quando comem.
E é por meio da alimentação que se acredita que a maioria das pessoas é exposta aos desreguladores endócrinos, como o BPA.
Além disso, os autores apontam que o protocolo da gavagem em si pode induzir respostas de estresse no sistema endócrino, o que pode confundir a avaliação dos compostos químicos nos exames de toxicidade.
"Propomos a exploração de alternativas [à gavagem] para imitar a exposição humana quando existirem várias vias de exposição ou fontes e quando as exposições forem crônicas," concluem os cientistas.
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