Aglomerados de fungos
Um grupo de pesquisadores do Brasil, Itália, Espanha e Dinamarca analisou um total de 884 amostras de fungos do gênero Candida, coletadas em 16 hospitais, e encontrou um número significativo do que chamam de aglomerados presentes em mais de um hospital.
Os aglomerados são conjuntos de isolados de fungo que apresentam sequências de DNA idênticas. A descoberta pode ser um indicativo da presença de variedades mais virulentas e resistentes a tratamentos.
Fungos como as leveduras do gênero Candida fazem parte da biota do intestino humano e não causam qualquer problema quando o organismo está em bom funcionamento. Porém, quando há algum desequilíbrio por conta de doenças crônicas e internação para a realização de diversos procedimentos terapêuticos por tempos prolongados, elas podem entrar na corrente sanguínea e causar infecções graves, potencialmente mortais.
A candidemia, como é chamada a infecção por Candida em corrente sanguínea, ocorre principalmente em pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTIs), bem como em pacientes submetidos a transplantes de órgãos e tratamento de alguns tipos de câncer, como leucemia.
"Num momento em que há muitas internações de pacientes graves, é preciso monitorar com ainda mais atenção as possíveis fontes de infecção. Apenas a título de exemplo, no momento atual, onde temos um grande número de pacientes críticos com covid-19, esta é uma complicação para a qual o sistema de saúde deve estar alerta. Esses pacientes demandam de duas a três semanas de internação em unidades de terapia intensiva, expostos a antibióticos, medicamentos imunomoduladores, procedimentos médicos invasivos e hemodiálise," disse o professor Arnaldo Lopes Colombo, da Escola Paulista de Medicina e único coautor brasileiro do estudo.
Fungos em hospitais
Os pesquisadores analisaram 884 amostras dos 16 hospitais, nas quais identificaram 723 genótipos de três espécies: Candida albicans (534 amostras), C. parapsilosis (282) e C. tropicalis (68).
A boa notícia é que o Hospital São Paulo, da Unifesp - único representante brasileiro do estudo - não se diferenciou muito de países desenvolvidos na frequência de formação de aglomerados.
Todos os hospitais envolvidos no estudo possuem programas para evitar infecções hospitalares, o que em tese deveria reduzir o número de infecções cruzadas entre pacientes. No entanto, foi encontrado um total de 78 (11%) isolados formando aglomerados (amostras de mesmo perfil genético infectando diferentes pacientes). A maioria (45 ou 57%) não ocorreu em mais de um hospital ao mesmo tempo, mas uma pequena proporção do total de genótipos encontrados (52 ou 7,2%) foi encontrada em diferentes hospitais, sendo 21 na mesma cidade e 31 em cidades diferentes.
Futuramente, os pesquisadores farão a análise do genoma completo de uma parte das amostras, a fim de confirmar a semelhança genética dentro dos aglomerados e aperfeiçoar a metodologia para estudos genéticos de Candida. Além disso, eles estudam o que torna as cepas que formam aglomerados tão virulentas, a fim de desenvolver tratamentos mais eficazes.
"Estamos observando que as cepas envolvidas em episódios de aglomerados apresentam maior capacidade de produção de biofilme, uma matriz extracelular que serve para aderir a superfícies e se proteger do ambiente inóspito - nesse caso, o sistema imune humano," disse Colombo.
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