Os cientistas estão sempre às voltas com suas "evidências atuais" e o desmantelamento das "evidências anteriores".
Isto está sendo particularmente verdadeiro nos estudos do cérebro, recentemente chamado de um ilustre desconhecido.
Nesta mesma semana, estudos acabaram de lançar uma pedra sobre uma linha de pesquisas muito querida pela academia, mostrando que não se pode atribuir comportamentos a áreas específicas do cérebro.
Mas as coisas estão mudando também no entendimento da própria fisiologia do cérebro.
Durante décadas, os cientistas pensavam que tinham uma compreensão muito clara de como os sinais se movem através do córtex cerebral.
Essa compreensão e essa crença acabam de cair por terra, graças ao trabalho de Christine Constantinopla e Randy Bruno, da Universidade de Colúmbia (EUA).
Dois cérebros
Ao estudar a anatomia dos axônios dos nervos - os "fios" que interligam as células nervosas - os dois pesquisadores perceberam que a informação é transmitida através de uma "coluna" de seis camadas de células nervosas especializadas em uma série de disparos que começam na camada média da córtex, então se move para outras camadas, antes de dar origem a uma resposta comportamental.
Isso significa que os sinais são processados em duas partes do córtex, simultaneamente, em vez de em série - é como se houvesse dois cérebros trabalhando paralelamente.
"Nossos resultados desafiam um dogma", afirma Bruno. "As camadas superior e inferior formam circuitos separados que fazem coisas distintas."
A descoberta, afirma ele, "cria uma forma diferente de pensar sobre como o córtex cerebral faz o que ele faz, o que inclui não só o processamento da visão, audição e tato, mas também funções superiores, como a fala, a tomada de decisões e o pensamento abstrato."
O estudo sugere que as camadas inferiores e superiores do córtex cerebral formam circuitos separados que desempenham papéis distintos no processamento das informações sensoriais.
Os sinais são transmitidos a partir do tálamo para as camadas médias e profundas do córtex simultaneamente, com uma sinalização surpreendentemente forte para a camada mais profunda.
Divisor de cérebros
O ganhador do Prêmio Nobel de Medicina de 1991, o alemão Bert Sakmann, que ganhou o prêmio pelo desenvolvimento do sistema de micropipeta que permite mapear os impulsos nervosos, afirmou que este estudo é um divisor de águas.
"O Dr. Bruno produziu uma obra-prima técnica que agora estabelece firmemente duas correntes de entrada separada para o córtex", diz ele.
Uma firmeza que talvez dure por décadas, como o conhecimento que ela acabou de derrubar, ou talvez dure menos - até que novas técnicas mais aprimoradas permitam descobrir que as coisas podem ser mais complicadas do que meramente dois circuitos paralelos.
Nunca é demais lembrar que os cientistas, sempre afeitos à precisão dos termos, usam muito mal a palavra evidência, que é uma certeza manifesta, que não comporta nenhum dúvida - o que os cientistas obtêm de seus estudos e experimentos são indícios, sempre prontos a sucumbir vítimas de indícios melhor fundamentados.
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