Como forçar emoções
Quando estamos felizes, sorrimos. Os cantos de nossas bocas se movem para fora e para cima, nossas bochechas levantam e a pele ao redor de nossos olhos se enruga.
Mas será que isso pode funcionar ao contrário? Isto é, se posicionarmos nossos músculos de modo a imitar um sorriso, será que isso pode iluminar nosso humor e nos fazer sentir mais felizes?
Essa questão faz parte de um debate de longa data no campo da psicologia, sobre se as expressões faciais influenciam nossa experiência emocional, uma ideia conhecida como "hipótese da retroalimentação facial".
O assunto é tão interessante que levou à formação de uma colaboração internacional, com a participação dos pesquisadores Julian Tejada e Raquel Freitag, da Universidade Federal de Sergipe, para tentar esclarecer as dúvidas que ainda pairam sobre o tema.
E a conclusão é que sim, que há fortes evidências de que poses com sorrisos podem, de fato, nos deixar mais felizes.
O efeito não é forte o suficiente para superar quadros mais graves, como a depressão, mas fornece informações importantes sobre o que são as emoções e de onde elas vêm.
"Nós experimentamos emoções com tanta frequência que esquecemos de nos maravilhar com o quão incrível é essa habilidade. Mas, sem emoção, não há dor ou prazer, nem sofrimento ou felicidade, e nenhuma tragédia e glória na condição humana. Esta pesquisa nos diz algo fundamentalmente importante sobre como essa experiência emocional funciona," disse o professor Nicholas Coles, da Universidade de Stanford, coordenador da pesquisa.
Colaboração Muitos Sorrisos
Os psicólogos ainda não têm certeza sobre as origens das emoções, mesmo sendo elas parte central da condição humana. Uma teoria é que nossa experiência consciente das emoções é baseada em sensações no corpo - a ideia de que a sensação de um batimento cardíaco acelerado fornece algumas das sensações que descrevemos como medo, por exemplo.
A retroalimentação facial tem sido frequentemente citada como evidência para essa teoria, mas alguns experimentos recentes têm questionado essas conclusões, o que dividiu os cientistas em dois grupos com posições opostas, gerando debates muito acirrados.
Quando o professor Coles liderou uma meta-análise dos estudos científicos anteriores, em 2019, que incluiu uma variedade de métodos diferentes, os resultados indicaram que de fato havia algumas evidências que davam suporte à ideia da retroalimentação facial - fazer poses parece alterar as emoções em alguns casos.
Então ele decidiu tentar resolver a questão de uma forma que convencesse tanto os céticos quanto os crentes: Ele organizou a Colaboração Muitos Sorrisos, um grupo que inclui cientistas de ambos os lados da questão, além de observadores e críticos neutros, e juntos eles criaram uma metodologia com a qual todos ficaram satisfeitos.
"Em vez de discutir e debater no Twitter e em artigos de periódicos científicos, que levariam décadas e provavelmente não seriam tão produtivos, dissemos: 'Vamos nos unir e projetar algo que agrade aos dois lados'," contou Coles. "Vamos descobrir uma maneira de convencer os proponentes de que o efeito não é real e potencialmente convencer os críticos de que o efeito é real."
Sensação corporal como parte da emoção
A Colaboração Muitos Sorrisos coletou dados de 3.878 participantes de 19 países.
Depois de analisar os dados, os pesquisadores detectaram um aumento notável na felicidade dos participantes imitando fotografias sorridentes ou puxando a boca em direção aos ouvidos. E várias outras simulações também produziram resultados em suas respectivas emoções.
"O alongamento de um sorriso pode fazer as pessoas se sentirem felizes, e a testa franzida pode fazer as pessoas sentirem raiva. Assim, a experiência consciente da emoção deve ser pelo menos parcialmente baseada em sensações corporais.
"Nos últimos anos, a ciência deu um passo para trás e alguns passos para a frente. Mas agora estamos mais perto do que nunca de entender uma parte fundamental da condição humana: a emoção," disse Coles.
A propósito do sorriso, a famosa técnica da caneta na boca - segurar uma caneta com os dentes, sem tocá-la com os lábios, fingindo um sorriso um tanto grotesco - não deu os resultados alegados por vários pesquisadores.
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