30/12/2014

Estudo questiona eficácia de protetores solares

Com informações da Agência USP
Estudo questiona eficácia de protetores solares
Há algum tempo os cientistas vêm alertando que o exagero no uso de filtros solares causa deficiência de vitamina D, sobretudo nas crianças.
[Imagem: FRL/UCR]

Luz ultravioleta e luz visível

Já se sabia que os protetores solares não oferecem proteção total contra o câncer de pele e até que alguns componentes nesses e em outros cremes de higiene pessoal podem causar doenças como a endometriose.

Pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) podem ter descoberto agora uma das explicações pelas quais os protetores solares podem não ser a garantia total de proteção contra o câncer de pele.

"Criou-se um mito de que a luz visível é segura, o que não é verdade," explica o professor Maurício Baptista, cuja equipe demonstrou que a exposição à luz visível, e não apenas à luz ultravioleta, também pode ser prejudicial à pele mesmo com o uso de protetores solares.

Baptista e seus colegas do Redoxoma (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Processos Redox em Biomedicina) mostraram como a melanina, ao ser estimulada pela luz visível, gera moléculas altamente reativas que causam danos ao DNA das células.

"Este resultado tem impacto importante para a saúde pública, pois demonstra que a estratégia de passar filtro solar e se expor por longos períodos ao Sol pode causar danos irreparáveis na saúde da pele, incluindo o fotoenvelhecimento e possivelmente a formação de tumores", alerta o cientista.

Ele explica que a irradiação solar tem vários componentes, ou comprimentos de onda: o que enxergamos (luz visível), e uma série de componentes que nossos olhos não captam, como os ultravioletas. "Os bons filtros solares encontrados hoje no mercado nos protegem contra radiação solar ultravioleta (UVA e UVB), mas não contra a radiação visível. É um equívoco considerar que a exposição à luz visível seja segura para a saúde da pele," adverte Baptista.

Sol na medida certa

Segundo o pesquisador, proteger a pele humana da exposição ao Sol é uma questão complexa que envolve aspectos ainda pouco claros da interação entre a luz e o tecido biológico.

"O ideal parece ser a velha receita de se expor ao Sol por pouco tempo sem proteção externa, pois nesse caso obtemos os benefícios do Sol, por exemplo, ativação da vitamina D, sem sofrermos os riscos que a exposição prolongada oferece, mesmo com a utilização dos filtros solares atuais", afirmou.

Fotossensibilização

O mecanismo de fotossensibilização e geração de espécies reativas por radiação UVA, com efeitos como fotoenvelhecimento e desenvolvimento de vários tipos de câncer de pele, já era conhecido.

Agora, os pesquisadores avaliaram a toxicidade da luz visível em melanócitos humanos e de murinos, tanto com nível basal quanto com superexpressão de melanina, e demonstraram que a presença de melanina aumenta a fototoxicidade da luz visível. Eles também quantificaram a formação de oxigênio singlete, que seria um dos mecanismos pelos quais ocorrem danos às células.

Esse mecanismo, como explica Baptista, envolve uma reação de transferência de energia da melanina excitada por absorção luminosa para o oxigênio, formando o oxigênio singlete, que ataca principalmente a base nitrogenada guanina, formando derivados potencialmente mutagênicos do DNA. Além da formação do oxigênio singlete, os resultados obtidos pelo grupo também indicam a ocorrência de reações diretas da melanina em estado excitado com o DNA.

Os melanócitos são células localizadas na barreira entre a epiderme e a derme, fundamentais para manter a saúde da pele. Eles produzem a melanina, um pigmento na forma de grânulos responsável pela coloração da pele e pela proteção contra a radiação ultravioleta B (UVB). Na presença de raios UVA e da luz visível, no entanto, a melanina passa a causar danos às células epiteliais.

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