05/04/2010

Dieta sem proteínas causa morte de neurônios

Valéria Dias - Agência USP
Dieta sem proteínas causa morte de neurônios
A pesquisa inédita, feita na USP, mostra a importância da presença das proteínas na dieta e alerta para os problemas que a deficiência desses nutrientes pode causar no organismo.
[Imagem: USP]

Proteínas e neurônios

Uma dieta pobre em proteínas, além de provocar a atrofia dos neurônios do gânglio celíaco (parte do sistema nervoso simpático que inerva os neurônios da parede do intestino delgado), também provoca redução no número desses neurônios.

Estas células nervosas são responsáveis pelos movimentos peristálticos (movimentos involuntários que empurram o alimento ao longo do canal alimentar) e controlam a absorção de nutrientes.

Importância das proteínas

A pesquisa, feita na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP), mostra a importância da presença das proteínas na dieta, e alerta para os problemas que a deficiência desses nutrientes pode causar no organismo.

Outro dado interessante da pesquisa é que pela primeira vez foi possível observar a redução do número de neurônios do gânglio celíaco, devido ao método usado no estudo: a estereologia estocástica.

Esta nova área da ciência permite a análise de imagens e de partículas (individuais ou conectadas) não apenas em duas dimensões (2D) - a partir do comprimento e largura - mas também considerando a profundidade (3D) e até a dimensão tempo (4D).

Redução do número de células

Os estudos foram coordenados pelo estereologista Antonio Augusto Coppi, com as pesquisas a cargo do médico veterinário Sílvio P. Gomes.

Coppi lembra que outros estudos já haviam comprovado que dietas com redução de proteínas causavam redução do tamanho dos neurônios entéricos; entretanto o resultado da nova pesquisa sobre a diminuição do número destas células é totalmente inédito.

Perda de neurônios

A pesquisa envolveu 10 ratas Wistar, sendo que 5 delas receberam dieta com 5% de proteína - caseína - (grupo experimental) e as outras 5 foram alimentadas com uma dieta normal com 20% de proteína - caseína - (grupo controle).

O experimento foi feito durante o período de gestação (21 dias) destas fêmeas e durante o período pós-natal (21 dias). Os filhotes, ao nascerem, continuaram recebendo as mesmas dietas (5% e 20% de proteína de acordo com o grupo de estudo) e foram eutanasiados no 21º dia.

Os principais achados morfoquantitativos foram a atrofia do gânglio celíaco (78%) e de seus neurônios (24%). No entanto, o resultado mais impactante foi a perda de 63% dos neurônios que constituem o gânglio celíaco.

"Esta diminuição do número de neurônios celíacos representa um marco na literatura médica, pois não tinha sido reportada antes. Só foi possível observá-la pois o tecido foi analisado em 3D, aplicando-se a estereologia estocástica", observa o professor Coppi. "Tanto a atrofia dos neurônios, como a do gânglio também foram estimadas por métodos estereológicos em 3D", completa.

Fenômeno biológico

De acordo com o professor Coppi, este estudo faz um sério alerta para uma questão crucial aos que querem fazer quantificações em Biologia: quais são os critérios para a escolha do método de contagem?

"Estudos anteriores com desnutrição proteica, porém usando morfometria 2D, falharam ao reportar que não ocorria redução do número destes neurônios. Outra inacurácia da morfometria 2D diz respeito ao fato de que em geral faz-se referência à célula. Contudo, a morfometria 2D não observa a célula, mas sim o perfil ou o seu contorno, uma vez que a célula é essencialmente uma partícula com 3 ou 4 dimensões. O método de quantificação escolhido precisa respeitar esta característica estrutural intrínseca da célula", esclarece o professor.

"O uso de métodos e técnicas não acurados pode conduzir os pesquisadores a interpretações errôneas e conclusões desastrosas sobre o fenômeno biológico descrito. Por exemplo, somente pode-se reportar que houve atrofia ou hipertrofia de uma dada célula ou órgão, se e somente se, o volume desta mesma célula ou órgão foi mensurado; e apenas os métodos de análise em 3D permitem isso. Medidas de área (em 2D) absolutamente não permitem conclusões sobre atrofia ou hipertrofia", enfatiza.

Laboratório de estereologia

Criado em 2005, o laboratório de estereologia da USP mantêm colaboração com pesquisadores da Dinamarca e Inglaterra, países pioneiros no uso da estereologia na Medicina e Biologia.

O Laboratório é o único representante da América do Sul na International Society for Stereology (ISS) e oferece aos pesquisadores - docentes, alunos de graduação e de pós-graduação e técnicos - treinamentos, cursos, palestras e workshops sobre técnicas de delineamento experimental; amostragem; preparo de material histológico (histoquímica, imunohistoquímica, imunocitoquímica) especialmente para estereologia; preparo, registro e análise de imagem para quantificação em 3D e 4D; análise estatística estocástica de dados e redação científica de artigos para publicação.

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