Antiga e frequentemente considerada uma doença negligenciada, a leishmaniose continua a fazer suas vítimas - no Brasil ela é conhecida também como Calazar ou barriga d'água.
Agora, pesquisadores brasileiros desvendaram um mecanismo essencial da doença, trazendo novas esperanças de tratamentos mais eficazes.
A descoberta, feita pela equipe do Dr. Dario Simões Zamboni, da USP de Ribeirão Preto (SP) está sendo festejada pela comunidade científica e, pela importância, acaba de ser publicada pela revista Nature Medicine.
Mecanismo da Leishmaniose
O trabalho revelou os processos intracelulares ocorridos em células de defesa dos hospedeiros em resposta à infecção pelo parasita da leishmaniose, a Leishmania.
O professor Zamboni explica que já era conhecida a ação do óxido nítrico para a morte do protozoário.
O óxido nítrico é uma molécula que cumpre uma infinidade de funções no organismo. No sistema imunológico, é uma arma importante na defesa contra micróbios que causam doenças.
O que ainda não se sabia era como as células reconhecem a doença e ativam determinadas vias de sinalização que levam à produção de óxido nítrico durante a leishmaniose.
Quando o organismo é atacado pelo protozoário que causa essa doença, os macrófagos o "fagocitam" (levam o patógeno para dentro dessas células). "Existe uma plataforma molecular que reconhece a Leishmania no interior dos macrófagos e sinaliza para o sistema imunológico, informando que se trata de uma infecção por um patógeno que pode causar danos ao organismo", explica o pesquisador.
O macrófago então ativa essa plataforma, chamada inflamossoma, que é composta por várias proteínas, induzindo a produção de uma molécula chamada a interleucina 1-beta.
Como uma mensageira imunológica, a IL-1beta se liga a receptores celulares que orientam o macrófago a produzir óxido nítrico e matar a Leishmania.
Esse processo, afirma o pesquisador, "leva à resistência dos mamíferos frente à leishmaniose".
Resistência imunológica
Ao mostrar como as células de defesa de um mamífero, hospedeiro da Leishmania, fagocitam e matam o parasita, os cientistas dão um passo muito importante para o entendimento da resistência imunológica durante a leishmaniose.
Como os experimentos também utilizaram animais vivos, conseguiram comprovar que, quando o animal infectado com a Leishmania tem alguma deficiência nos genes do inflamossoma ou na sinalização por IL-1ß, ele apresenta uma doença muito mais grave.
É que o sistema imunológico falha no controle da infecção.
O próximo passo é confirmar que o mesmo mecanismo aconteça com os homens, uma vez que estudos realizados por outros grupos indicam que seres humanos com mutações nos genes que realizam a sinalização por IL-1beta têm uma forma muito mais grave da doença.
Leishmaniose
Além de ajudar na compreensão de respostas imunológicas, a pesquisa aponta armas para uma doença que acomete mais de 12 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, no período de 1991 a 2010, um dos tipos de leishmaniose, a tegumentar americana, apresentou média anual de 27.374 casos. Atualmente, ela faz vítimas em todos os estados brasileiros.
A leishmaniose é transmitida pela picada de um pequeno inseto de cor amarelada, o flebotomíneo, e tem diversos mamíferos como hospedeiros.
Um problema particularmente grave para a leishmaniose visceral humana, outro tipo frequente no Brasil, é a infeção de cães. Como portadores da doença, os cães infectados podem ser picados pelo inseto transmissor e posteriormente picar os seres humanos, transmitindo a doença.
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