Enterovírus que causa diabetes
Recentemente, cientistas descobriram que a infecção por alguns enterovírus - um gênero de vírus que comumente causa doenças de gravidade variada - poderia potencialmente desencadear o diabetes, embora seu efeito direto "in vivo", bem como seu mecanismo de ação em nível molecular, sejam desconhecidos.
Agora, Hugo Bernard e seus colegas do Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas da Espanha (CNIO) demonstraram pela primeira vez como o enterovírus CVB4 (coxsackievirus tipo B4) pode induzir o diabetes.
Essa descoberta pode ser um passo fundamental para abrir caminho para a busca de novas estratégias terapêuticas e para elucidar outros casos de "doenças misteriosas" causadas por enterovírus, incluindo vírus que infectam o coração.
Os pesquisadores também apontam que a descoberta pode ser relevante para a pandemia de covid-19, uma vez que informações clínicas indicam uma possível relação entre a infecção viral por SARS-CoV-2 e o diabetes.
A equipe sugere que, como o receptor do SARS-CoV-2 é expresso no pâncreas endócrino, ele pode operar e levar ao diabetes de maneira semelhante ao CVB4, independentemente das reações imunológicas.
Vírus e falhas na produção de insulina
Os coxsackievírus pertencem à família dos enterovírus, que também inclui o poliovírus e o echovírus, e que podem causar desde doenças leves, como a gripe, até doenças mais graves, como miocardite, pericardite, meningite ou pancreatite.
A equipe espanhola se concentrou nos mecanismos moleculares envolvendo casos já relatados de infecção pelo enterovírus e a emergência do diabetes em humanos.
Para isso, eles trabalharam com modelos animais enxertados com células pancreáticas humanas infectadas pelo CVB4, bem como com células humanas e de camundongo produtoras de insulina, também infectadas com esse vírus, isoladas em laboratório.
O que eles observaram foi que a infecção por CVB4 induz a desregulação da URI, uma proteína que regula as funções normais de várias atividades celulares.
"Neste caso, a regulação negativa da URI desencadeia uma cascata de eventos moleculares que levam à modificação do genoma via hipermetilação e silenciamento do Pdx1, um gene crítico para a identidade e função das células beta presentes no pâncreas endócrino, chamada ilhotas de Langerhans, e responsáveis pela produção e secreção de insulina, um hormônio que diminui os níveis de glicose no sangue.
"O silenciamento do PDX1 causa a perda de identidade e de função das células beta, que se tornam mais parecidas com células alfa, responsáveis por aumentar os níveis de glicose no sangue e, portanto, levar à hiperglicemia e subsequente diabetes, independentemente de quaisquer reações imunológicas," explicou o pesquisador Nabil Djouder.
Terapêutica antiviral
Os pesquisadores sugerem que, a partir desses resultados, uma possível estratégia de prevenção e terapêutica seria a utilização, em combinação com terapias antivirais, de inibidores da DNA metilase transferase, uma proteína responsável pela hipermetilação do genoma e silenciamento do PDX1.
De fato, a equipe demonstrou que esta classe de inibidores restabeleceu a expressão do PDX1 e a tolerância à glicose em camundongos diabéticos. Vários desses inibidores já foram licenciados para uso clínico em tratamentos de câncer, o que pode acelerar sua aplicação nesses casos. Mas isso envolverá testes clínicos específicos ainda por serem realizados.
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