Atividade antitumoral
Duas das mais importantes revistas científicas do mundo destacam esta semana estudos que trazem boas notícias na luta contra o câncer. Depois de uma promessa para o tratamento do câncer de próstata, divulgado pela Science, é a vez da Nature apresentar outra novidade muito bem-vinda.
Na edição desta quinta-feira (9/4), o periódico britânico publica um artigo que descreve o potencial de uma nova droga contra a doença. O composto apresentou tamanha atividade antitumoral em camundongos que já está sendo avaliado em uma primeira fase de testes clínicos em humanos.
Molécula anticâncer
A novidade é a molécula MLN4924, descoberta por cientistas da Millennium Pharmaceuticals, empresa com sede em Cambridge, Massachusetts, pertencente ao grupo japonês Takeda Oncologia.
A Millenium desenvolveu o primeiro inibidor de proteassomo (um degradador celular), o bortezomib. Comercializado com o nome Velcade, a droga para o tratamento de mieloma refratário múltiplo, um tipo de câncer na medula óssea, tem estimativa de vendas no mundo em 2009 de US$ 1 bilhão.
A MLN4924 barrou o crescimento de células cancerosas humanas transplantadas em camundongos. Segundo os autores do estudo, ela funciona por meio do bloqueio de uma parte do caminho intracelular que regula a degradação de proteínas. Enquanto o bortezomib interrompe o caminho em um sentido, a nova droga o faz em outro.
A molécula agora apresentada também funciona de modo diferente da outra. Ela desregula a parte do ciclo celular na qual ocorre a síntese de DNA. Isso resulta na danificação do DNA e na indução de morte celular programada, a apoptose ou suicídio das células cancerosas.
Descoberta de novas drogas
"A descoberta de drogas é algo raro. Em 2008, a Administração de Alimentos e Drogas do governo norte-americano aprovou um único novo composto para o tratamento do câncer, apesar de a indústria farmacêutica no país ter gastado no ano cerca de US$ 65 bilhões com esse tipo de pesquisa", destacou Raymond Deshaies, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, em comentário sobre o novo estudo publicado na mesma edição da Nature.
Por conta disso, a identificação de proteínas capazes de ser usadas em novas drogas sempre atrai muita atenção. No novo estudo, os cientistas descobriram um composto que reside em uma enzima até então ignorada, a NEDD8, e mostraram que tal composto é capaz de suprimir o crescimento de tumores.
Ubiquitina
O segredo da MLN4924 é atuar no sistema ubiquitina-proteassomo, que controla muitos processos celulares. A ubiquitina (de ubíquo, que está em todos os lugares) é uma proteína com funções fundamentais para a regulação de processos biológicos. Ela funciona como uma espécie de bandeira, ligando-se a outras proteínas e indicando que algo deve ocorrer ao substrato ao qual está conectada. Ela sinaliza ao proteassomo quais proteínas-alvo devem ser degradadas.
O caminho de degradação proteossômica é essencial para muitos processos celulares, incluindo o ciclo celular, a regulação da expressão gênica e respostas ao estresse oxidativo.
A descoberta da degradação regulada de proteínas pelo sistema ubiquitina-proteassomo foi feita no início da década de 1980 pelos israelenses Aaron Ciechanover e Avram Hershko Technion e pelo norte-americano Irwin Rose. A importância do processo para a regulação de processos biológicos - e a sua relevância para a compreensão de várias patologias - garantiu aos três o Prêmio Nobel de Química de 2004.
Esse processo é mediado por um grande número de enzimas. Apenas uma das famílias, conhecida como E3, é formada por mais de 650 enzimas. No novo estudo, em vez de ter como alvo direto as enzimas E3, os pesquisadores verificaram a possibilidade de inibir outras proteínas que ativam as E3. Foi quando descobriram a NEDD8 e seu componente antitumoral.
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