26/12/2022

Crianças e adultos encontram o bem nos vilões, mas não o mal nos heróis

Redação do Diário da Saúde

O lado bom dos vilões

Seja na televisão ou no cinema, nem todos amam os super-heróis e odeiam os vilões.

Na verdade, não importa o quão egoísta, sedenta por poder ou gananciosa seja a pessoa que desempenha o papel do mal, muitas pessoas ainda são atraídas por esse lado sombrio.

E, por surpreendente que possa parecer, não é tanto porque também temos um lado sombrio escondido e negado - o que faria com que nos identificássemos com os vilões -, mas porque suspeitamos que esses vilões ainda possam ter uma qualidade redentora.

Na verdade, de acordo com um novo estudo, adultos e crianças relataram com mais frequência que os vilões eram bons por dentro do que os heróis eram maus por dentro.

Ou seja, por dentro os vilões são vistos como um pouco menos maus do que aparentam externamente, enquanto os heróis são vistos como mocinhos por dentro e por fora, como se o mal estivesse totalmente ausente deles.

"Em outras palavras, as pessoas acreditam que há uma incompatibilidade entre os comportamentos externos de um vilão e seu verdadeiro eu interior, e essa é uma lacuna maior para os vilões do que para os heróis," relata a professora Valerie Umscheid, da Universidade de Michigan (EUA).

Assimetria na percepção do mal e do bem

A professora Umscheid e seus colegas realizaram três experimentos com 434 crianças de 4 a 12 anos e 277 adultos, para determinar como os indivíduos interpretam atos antissociais cometidos por malfeitores. A equipe se concentrou nos julgamentos dos participantes sobre vilões e heróis fictícios familiares e novos, como Úrsula, de "A Pequena Sereia", e Woody de "Toy Story".

O primeiro experimento mostrou que as crianças viam as ações e emoções dos vilões como extremamente negativas. Isso sugere que a tendência bem documentada das crianças de julgar as pessoas como boas não impede que elas reconheçam formas extremas de vilania.

Os experimentos 2 e 3 avaliaram as crenças de crianças e adultos em relação ao caráter moral e ao verdadeiro eu dos heróis e vilões, usando uma série de evidências convergentes, incluindo como um personagem se sentia por dentro, se as ações de um personagem refletiam seu verdadeiro eu e se o verdadeiro eu de um personagem poderia mudar com o tempo.

Tanto as crianças quanto os adultos avaliaram consistentemente os verdadeiros eus dos vilões como sendo esmagadoramente maus e muito mais negativos do que os eus dos heróis. Ao mesmo tempo, os pesquisadores também detectaram uma assimetria nos julgamentos, em que os vilões eram mais propensos do que os heróis a ter um verdadeiro eu que diferia do seu comportamento externo.

Tanto crianças quanto adultos acreditavam que personagens como Úrsula tinham alguma bondade interior, apesar das ações más e imorais em que se envolvem regularmente, ressaltou Umscheid.

Os resultados de certa forma surpreendem, uma vez que outras pesquisas já demonstraram que os super-heróis do cinema são mais violentos do que os vilões.

Checagem com artigo científico:

Artigo: What makes Voldemort tick? Children's and adults' reasoning about the nature of villains
Autores: Valerie A. Umscheid, Craig E. Smith, Felix Warneken, Susan A. Gelman, Henry M. Wellman
Publicação: Cognition
Vol.: 233, 105357
DOI: 10.1016/j.cognition.2022.105357
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