03/08/2011

Paciente que recebeu coração de plástico tem alta

BBC

Coração de plástico

Um paciente de 40 anos que chegou perto da morte por falência cardíaca poderá voltar para casa, após receber um implante de coração artificial em um hospital britânico.

Após ter seu coração substituído por um órgão de plástico no Papworth Hospital, em Cambridge, Inglaterra, Matthew Green vai aguardar em casa um doador para um transplante permanente.

Acredita-se que seja a primeira vez que um paciente britânico vai para casa com o órgão artificial implantado. Na grande maioria dos casos, por razões de segurança e para facilitar seu monitoramento, os pacientes nestas condições ficam internados.

Cerca de 900 operações desse tipo foram feitas no mundo.

Lista de espera para transplante

Segundo o cirurgião cardiologista Steven Tsui, diretor do serviço de transplantes do hospital, havia riscos de que o londrino Green não sobrevivesse enquanto aguardava na lista de espera por um transplante.

"A lista do hospital tem uma média constante de 30 pessoas aguardando um transplante", explicou Tsui. "Um terço dos pacientes fica esperando por mais de um ano."

"A condição de Matthew estava se deteriorando rapidamente, então discutimos a possibilidade de que ele recebesse esse dispositivo porque, sem isso, talvez não sobrevivesse até que surgisse um doador apropriado."

Miocardiopatia

Green, que é casado e tem um filho, sofria de miocardiopatia arritmogênica do ventrículo direito, uma condição que pode levar à falência cardíaca e até à morte.

Sua saúde vinha piorando nos últimos anos, tornando o transplante de coração a única saída.

O implante temporário do chamado Coração Artificial Total é normalmente usado como uma fase intermediária, para que pacientes em estado grave, com falência nos dois ventrículos, possam ganhar tempo enquanto aguardam o transplante definitivo.

O implante funciona da mesma forma como um coração transplantado, ou seja, o órgão artificial substitui os dois ventrículos e as válvulas cardíacas, auxiliando a circulação sanguínea e aliviando os sintomas e os efeitos da falência cardíaca grave. No entanto, o dispositivo não é adequado para uso a longo prazo.

Tsui disse que a cirurgia de Green, feita no dia 9 de junho, correu "muito bem".

"Matthew está tendo uma recuperação excelente", disse. "Espero que ele vá para casa em breve, que seja capaz de fazer muito mais do que antes da operação, e que tenha uma qualidade de vida muito melhor - até que possamos achar um doador apropriado para um transplante."

Motor na mochila

"Há dois anos, eu percorria 14 km de bicicleta para ir para o trabalho e outros 14 km para voltar todos os dias, mas, na época em que fui internado, me esforçava para conseguir andar alguns metros", disse Green.

"Estou realmente ansioso para voltar para casa e ser capaz de fazer as atividades de todos os dias que não pude fazer durante tanto tempo, como brincar com meu filho no jardim e cozinhar uma refeição para a minha mulher."

Green vai sair do hospital carregando nas costas uma mochila que contém um motor portátil de 7 kg, para manter seu coração funcionando.

O Papworth Hospital realiza cerca de 2 mil cirurgias de coração por ano, mais do que qualquer outro hospital na Grã-Bretanha.

O hospital realizou o primeiro transplante de coração do país, em 1979.

Desde a década de 1980, o hospital vem utilizando dispositivos mecânicos para manter vivos os pacientes com falência cardíaca grave.

O Coração Artificial Total é uma versão moderna do coração artificial Jarvik-7, usado na década de 1980.

Em novembro de 1986, um paciente recebeu um implante Jarvik e sobreviveu dois dias até receber um transplante.

O Futuro

Esta não é a primeira vez que um paciente com um implante de coração artificial recebe alta para ir para casa.

Ainda assim, segundo o cardiologista Euclydes Marques, pioneiro em pesquisas sobre transplantes cardíacos no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, em São Paulo, a ida do paciente para casa continua sendo algo excepcional.

"Estamos caminhando para isso, mas casos como esse ainda são exceção", disse Marques à BBC Brasil.

"A grande fronteira nessa área seria a criação de um órgão novo, à base de engenharia genética. Mas um órgão biológico, um coração capaz de se contrair. Falta tempo para que cheguemos lá, mas pesquisas não faltam".

Artérias artificiais

Segundo Marques, outras pesquisas interessantes nesse campo são, por exemplo, estudos que usam a engenharia genética para a criação de pontes de safena para insuficiência coronária.

Em cirurgias para implantação de pontes de safena no coração do paciente, a prática ideal é usar-se um pedaço de artéria retirada do corpo da pessoa porque a artéria não se entope com o passar do tempo.

Em muitos casos, no entanto, não há artérias disponíveis e os cirurgiões tem de usar um pedaço de veia - que tende a se entupir após um certo período.

Marques e a equipe de Engenharia Molecular do Instituto do Coração estão tentando resolver esse problema.

"Estamos tentando modificar geneticamente a veia para que ela tenha o comportamento da artéria, ou seja, para que ela não se entupa".

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