21/08/2009

Cientistas descobrem proteção natural contra formas graves de malária

Ana Godinho

Proteção contra malária

Num estudo a ser publicado na próxima edição da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), cientistas do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Portugal, demonstram que um fármaco antioxidante oferece proteção contra formas mortais de malária.

Esta descoberta tem implicações diretas no tratamento desta doença devastadora, uma das principais causas de mortalidade no mundo, causada pelo parasita Plasmodium.

Ação do Plasmodium

Miguel Soares e sua equipe haviam demonstrado anteriormente que, ao multiplicar dentro dos glóbulos vermelhos (as células que transportam o oxigênio dos pulmões para os tecidos), o Plasmodium leva à ruptura destas células e à libertação de hemoglobina para a corrente sanguínea.

No sangue, a hemoglobina liberta os seus grupos heme (quatro centros de ferro através dos quais o oxigênio se liga à hemoglobina) e são estes grupos que causam os sintomas graves de malária.

Defesa natural

Agora, neste novo estudo, os cientistas mostram que ratinhos infectados com o Plasmodium produzem níveis elevados da enzima heme-oxigenase-1 (HO-1), que degrada os grupos heme livres e, deste modo, protege os animais infectados das formas mais graves de malária.

Além disso, o efeito da enzima HO-1 pode ser produzido pela aplicação do fármaco antioxidante N-acetilcisteína (NAC).

Terapias alternativas para malária

Segundo Miguel Soares, "O efeito antioxidativo da enzima HO-1 faz parte do sistema de defesa natural do hospedeiro contra o parasita da malária. Ele confere uma forte proteção contra a doença, sem, surpreendentemente, interferir diretamente com o parasita. Em alguns casos, é a própria reação do hospedeiro contra o parasita que leva à morte do primeiro."

"O efeito protetor da enzima HO-1 permite que a resposta do hospedeiro leve à morte do parasita, assegurando a sobrevivência do hospedeiro. Esta observação abre caminho a terapias alternativas contra a malária, que, ao contrário dos tratamentos existentes, não interfiram diretamente com o parasita mas antes reforcem o estado de saúde do hospedeiro, assegurando que seja capaz de eliminar o parasita sem colocar em risco a sua própria sobrevivência. Este tipo de terapia será com certeza eficaz na proteção contra formas graves de malária, salvando vidas, tudo sem favorecer o aparecimento de estirpes de parasitas resistentes."

E continua, "Por outro lado, as nossas descobertas poderão ter implicações para os tratamentos de outras doenças inflamatórias - esta é uma linha de investigação que estamos ativamente a prosseguir no IGC".

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