Decisões pensadas e decisões automáticas
A cada dia nós fazemos uma multiplicidade de decisões com base nas consequências de nossas ações - as chamadas respostas orientadas por objetivos. Em um ambiente sempre em mutação, essa capacidade é crucial para o sucesso de nossa vida em sociedade.
Mas, como ela é complexa, ela exige um bocado do cérebro. Assim, ações repetitivas - como pressionar o botão do elevador - passam a se ligar a outros tipos de respostas neurais, que exigem menos do cérebro.
Se necessário, é sempre possível retornar ao primeiro tipo de resposta.
Estresse deixa pessoa no automático
Mas cientistas portugueses revelaram, em um estudo publicado no último exemplar da revista Science, que o estresse crônico - muitas vezes uma característica da vida moderna - interfere com essa capacidade de retorno à resposta por objetivos, congelando os indivíduos em respostas automáticas.
A descoberta desses efeitos do estresse tem implicações importantes, permitindo um melhor entendimento das patologias relacionadas ao estresse, de como o cérebro funciona em geral, e de questões mais práticas que vão do entendimento do impacto das questões ligadas ao estilo de vida moderno a como evitar más escolhas em situações nas quais o estresse parece ser inevitável.
Efeitos do estresse
O estresse crônico é uma questão importante na sociedade atual e sabe-se que ele leva a uma variedade de problemas de saúde, das úlceras à hipertensão. A maioria de nós já teve uma experiência pessoal de como nossa capacidade de decisão é afetada pelo estresse e quantas decisões erradas nós tomamos em razão disso.
Como exatamente isso acontece é o tema principal do trabalho agora publicado por Eduardo Dias-Ferreira, Nuno Sousa e seus colegas da Universidade de Minho.
Os cientistas analisaram decisões orientadas a objetivos - aquelas nas quais as consequências são levadas em conta - e decisões automáticas - aquelas resultantes do hábito - assim como a alternância entre as duas, e como esse processo de alternância é influenciado pelo estresse.
Alterações no cérebro
Esse efeito está associado com alterações morfológicas no cérebro, onde áreas ligadas a respostas habituais são ampliadas, obtendo uma melhor conectividade neural. O oposto acontece nas áreas que lidam com as respostas orientadas a objetivos, que sofrem atrofias e perdem conexões.
O trabalho tem várias implicações. Ele pode ajudar a explicar porque tantas vezes as doenças relacionadas ao estresse estão associadas com comportamentos compulsivos e vícios.
Técnicas para melhorar as decisões
Mas também, em uma sociedade dominada pelo estresse como a atual, ajuda a entender como o estresse constante pode afetar diretamente nossas escolhas. Isso poderá levar ao desenvolvimento de novas técnicas para lidar com o problema.
"Nós estamos agora focando o nosso trabalho futuro na tentativa de descobrir os mecanismos funcionais e moleculares subjacentes à nossa descoberta, a fim de desenvolver novas estratégias que possam reverter essa influência induzida pelo estresse nos processos de tomada de decisão," explica o Dr. Nuno Sousa.
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