Células-tronco adultas
A restrição legal de pesquisas no Brasil com células-tronco embrionárias fez a Universidade Federal de Santa Catarina avançar em um campo alternativo: o estudo de células-tronco adultas.
Derrubado somente em maio desse ano pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o polêmico impedimento foi acompanhado por pesquisadores da UFSC que direcionam seu esforço à busca de células-tronco em materiais como folículos da pele de roedores, placenta, cordão umbilical e dentes humanos.
Assim como as embrionárias, as células-tronco adultas representam esperança para a recomposição de tecidos danificados, tratamento de lesões no cérebro e de doenças como a leucemia, entre outras.
Células-tronco de cordão umbilical e placentas
As células-tronco obtidas a partir de embriões são preferidas por pesquisadores de todo o mundo, pois são as mais versáteis. São classificadas como totipotentes, ou pluripotentes, pois são "coringas" - podem se converter em vários tipos de tecidos.
Mas, diante da proibição de estudos com material embrionário, que se prolongou no país por três anos, os experimentos foram em frente com as células tronco-adultas, presentes em outros órgãos e tecidos.
Uma das frentes de trabalho na UFSC permite que essas células sejam obtidas a partir de cordão umbilical e de placentas dos partos realizados no Hospital Universitário. Os pesquisadores estudam a transformação em dois tipos específicos de células-tronco: as hematopoéticas (ligadas à geração dos diversos constituintes do sangue) e as mesenquimais (que podem gerar células nervosas).
Células-tronco hematopoéticas
Uma das expectativas é de que as células-tronco hematopoéticas facilitem transplantes de medula. Atualmente há no Brasil pelo menos 1.500 pacientes portadores de leucemia (câncer que compromete o desenvolvimento dos glóbulos brancos) e de outras doenças genéticas e auto-imunes que necessitam de um transplante de medula óssea e não têm doador compatível.
Estes pacientes estão cadastrados em uma fila de espera do Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). Segundo o Instituto Nacional de Câncer, serão diagnosticados este ano 9.540 novos casos de leucemia em todo o País, sendo 380 em Santa Catarina.
Menor rejeição
Além de apresentar uma esperança diante da falta de doadores, as células-tronco adultas podem possibilitar redução de até 50% nos índices de rejeição em relação a um doador adulto. Elas são "imaturas" imunologicamente: estão em um estágio muito primário de desenvolvimento e apresentam mais chances de serem bem aceitas pelo receptor.
Multiplicação das células-tronco em laboratório
Mas, aliada a esta vantagem há desafios. Um dos inconvenientes é o pequeno número de células-tronco hematopoética em cordões umbilicais e placentas. Para superar esse desafio, a UFSC investiu no desenvolvimento de um sistema de amplificação in vitro, capaz de dobrar ou mesmo triplicar estas células em laboratório.
"É uma tecnologia importante para a produção maciça de células", explica o professor Marcio Alvarez-Silva, do Laboratório de Neurobiologia e Hematologia Celular e Molecular, ligado ao Departamento de Biologia Celular, Embriologia e Genética da UFSC. Segundo ele, em pequena escala o sistema já funciona bem, tanto que há perspectivas de envolver nos trabalhos a Maternidade Carmela Dutra, uma das mais tradicionais de Florianópolis, onde o número de partos é superior aos realizados no HU.
Os estudos que contam com recursos do CNPq e da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina (Fapesc) já resultaram em 10 artigos, quatro apresentados no Simpósio Internacional em Terapias Avançadas e Células-Troco, realizado no Rio de Janeiro, e outro em evento internacional promovido no Canadá.
Pesquisa pré-clínica
Com as células-tronco mesenquimais os resultados também são promissores. Os estudos já entraram em fase de pesquisa pré-clínica, em modelos animais. Como foram bem-sucedidos experimentos para diferenciação em células nervosas, agora estas vêm sendo enxertadas em camundongos. O objetivo é estudar seu potencial na regeneração de lesões no cérebro e em nervos periféricos.
De acordo com o professor Alvarez-Silva, as pesquisas ajudarão na busca de respostas a diversas questões. Entre elas, se o enxerto deve ser no local da lesão, ou inoculado no sangue, por via intravenosa, e quantas células são necessárias para recuperar uma lesão, por exemplo. "Há também previsão de testes para avaliar o uso de células-tronco na recuperação do AVC (acidente vascular cerebral), talvez já no próximo semestre", informa o professor.
Malformações congênitas
A UFSC atua também com modelos de biologia do desenvolvimento, investigando como se dá o processo de formação de embriões em modelo animal (embriões de camundongos e de aves), conhecimento no campo da biologia que é fundamental para o trabalho com células-tronco. São estudos direcionados ao entendimento e controle in vitro dos mecanismos de divisão e diferenciação das células-tronco.
De acordo com a professora Andrea Gonçalves Trentin, essas pesquisas vão contribuir para o entendimento da causa de muitas malformações congênitas, como a anencefalia e a espinha bífida, além de possibilitar o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas.
Células-tronco a partir da pele
Andréa coordena também pesquisas para obtenção de células-tronco a partir de folículos da pele de camundongos. "O material deverá ser usado na recuperação de lesões nervosas em modelos animais", explica a pesquisadora.
Estas células-tronco serão ainda empregadas em testes para recomposição de queimaduras. Pioneira na identificação e investigação de células-tronco adultas na UFSC, Andrea co-orientou uma tese de doutorado que representa avanço importante nesse campo ? e com uso de outro material que iria para o lixo, assim como placentas e cordões umbilicais.
Experiências com dentes
O trabalho foi realizado em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Odontologia, a partir de dentes obtidos com a autorização de pacientes que tiveram indicação de extração. Nesse material foram identificadas células-tronco, posteriormente cultivas em laboratório.
O experimento foi referendado pelo meio científico e resultou na publicação de um artigo no Journal of Periodontal Research. Em breve as análises devem passar à fase pré-clínica, em que estas células serão usadas para recuperação de lesões nervosas em modelos animais.
Osteoblastos
Também neste caso a proporção de células-tronco identificadas é pequena, e continuam sendo aprimorados os testes para sua amplificação. O material tem potencial para diferenciação em osteoblastos (as células que geram o tecido ósseo) e células neuronais (que geram tecidos nervosos).
A visão futura que estimula esse tipo de estudo leva em conta que um paciente poderia ser responsável pela doação de células para seu próprio tratamento ? as células-tronco retiradas dos dentes poderiam ajudar a recuperar ossos fraturados ou lesões nervosas, por exemplo.
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